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Observando um padrão que cobre, de uma maneira geral, outras áreas e realidades da nossa vivência coletiva, em particular nos ambientes da coisa pública, também na saúde é manifesta a ausência crónica de uma cultura de avaliação e de análise de resultados, o que, entre outras consequências, leva a uma prática generalizada de tomada de decisões sem o adequado e necessário suporte, seguindo lógicas orientadas ao imediato onde o planeamento está, desgraçadamente, ausente.
Acresce que, e no que também não deixa de ser uma outra consequência, não conhecemos, em bom rigor, quanto isto nos tem custado e está a custar, o que, só por si, poderia ter um efeito pedagógico na sua correção ou minimização. Em todo o caso, será consensual que é algo de pesado, em valor e em oportunidade.
Uns dizem que é uma questão cultural e resignam-se. Outros culpam o chefe, os serviços, ou, mesmo, o Governo anterior, e empurram o assunto com a barriga. Outros, ainda, defendem o status quo e posicionam-se contra qualquer mudança com base em argumentos dogmáticos construídos à sombra duma luta contra o que qualificam como visões economicistas - conceito que, por limitação própria, obviamente, nunca consegui verdadeiramente entender! Por outro lado, já não tenho qualquer dificuldade em entender e mesmo constatar que, no final do dia, a fatura é paga por todos.
E assim não avaliamos os resultados das ações terapêuticas do ponto de vista do doente/cliente, com consequências negativas na possibilidade de retroagir sobre os prestadores em termos da promoção da melhoria dos cuidados dispensados e da competitividade dos custos que lhes estão associados.
Não avaliamos também o despenho dos profissionais envolvidos, desde médicos a enfermeiros, passando pelas cada vez mais presentes profissões técnicas e tecnológicas e pelas não menos relevantes prestações associadas à gestão e administração das unidades de saúde, ou avaliamos de forma tímida e incompetente, sem assumir a consequente tradução em incentivos e diferenciação positiva, para os melhores, e ações de estímulo e de correção, para os menos performantes.
E, pior, trazemos frequentemente para o debate público temas da maior relevância sem um mínimo de suporte em termos de dados, factos ou resultados, em alguns casos de forma muito vincada e carregada de certezas, à qual não é alheia a dinâmica político-partidária. A recente novela da demissão do diretor-executivo do SNS é disso um bom exemplo ilustrativo.
Com efeito, assistimos a esse propósito a um desfilar de opiniões - julgo que vamos chegar um dia ao ponto em que serão mais os opinadores do que os espectadores - sobre um tema tão estruturante e tão fundamental para o futuro do nosso serviço/sistema nacional de saúde, como é o da existência de uma estrutura com o perfil da Direção Executiva, sem qualquer base objetiva e minimamente suportada em dados credíveis e reais. E isto está a acontecer não só na conversa de circunstância e na mexeriquice rasteira das redes sociais, como na opinião publicada de reputados analistas. É, mais uma vez, o achismo e a sua ligeireza a fazerem caminho.