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O ensino superior deve ser, por excelência, um verdadeiro elevador social. Um motor de mobilidade e justiça, capaz de romper os ciclos de pobreza e exclusão. No entanto, os dados mais recentes espelham uma realidade que não podemos ignorar: apenas cerca de 10% dos jovens oriundos de famílias com menos recursos chegam à universidade.
Mas o problema não é apenas económico. O chamado capital cultural da família, profundamente influenciado pelo nível de escolaridade dos pais, molda expectativas, confiança e horizontes. Um jovem com ambos os pais licenciados tem 55% de probabilidade de concluir o ensino superior. Já um jovem cujos pais apenas concluíram o ensino básico vê essa probabilidade reduzir-se para 22%. O sistema educativo está a replicar as desigualdades sociais, em vez de as contrariar.
Apenas 19% dos estudantes universitários portugueses são filhos de pais sem formação superior. Em países como a Suécia ou a Dinamarca, essa percentagem ultrapassa os 40%.
Em 2023, foi criado um contingente específico para estudantes carenciados, reconhecendo que nem todos partem do mesmo ponto. Desde então, a FAP tem sido uma voz ativa na defesa do seu alargamento e maior divulgação. Esta medida, agora contemplada no programa do novo Governo, é um passo necessário, porque enfrentar desigualdades não é premiar fragilidades, é nivelar oportunidades.
O problema é profundo e estrutural. Exige um compromisso real com a escola pública, com mais investimento e mais visão. Mas no imediato, este contingente é uma resposta concreta a uma injustiça concreta. Porque o talento não escolhe berço e a educação não pode continuar a fazê-lo.