À hora a que escrevo este artigo, ainda não estão disponíveis os resultados finais. Porém, todas as sondagens de boca de urna e tendências apontam para uma vitória clara do Partido Socialista e para uma maioria de Esquerda no Parlamento.
Corpo do artigo
Na prática, a crise política e estas eleições pouco alteraram no xadrez político nacional. O PSD não se afirma como alternativa, Chega e IL crescem fortemente, numa Direita deixada devoluta por um discurso ao centro, hoje, claramente derrotado.
O PSD não teve um discurso para o eleitorado urbano e nas sondagens que contam, o voto dos portugueses, é penalizado por isso.
Bloco e PCP pagam a crise política, com decréscimo eleitoral, tendo uma palavra mais tímida no mais provável cenário de uma Geringonça 2.0.
Dizem os otimistas que as crises representam oportunidades, no caso português podemo-nos perguntar: se nada mudou porque tivemos eleições? Mas o futuro é ainda mais incerto do que foram estas eleições.
A crise na Ucrânia provocará uma subida no preço dos combustíveis, a ameaça de uma subida da inflação adensa-se e os de juros baixos começam a escrever o seu obituário.
Qualquer Governo terá de ter todos estes fatores em conta, na certeza de que os tempos que aí vêm não serão fáceis.
A governação socialista em crescimento económico destes últimos seis anos acabou. Os tempos serão exigentes e António Costa terá de vestir o fato de estadista. As negociações à Esquerda serão, mesmo com o enfraquecimento do BE e do PCP, mais difíceis, assim o dita o contexto.
Hoje é o dia de António Costa e do Partido Socialista, amanhã será o dia de Marcelo Rebelo de Sousa e do futuro do país. O Presidente resguardou-se, geriu o silêncio e terá um papel decisivo. Exige-se estabilidade, mas também se pede governabilidade, estratégia e futuro. O novo Governo será obrigatoriamente diferente do atual, nos protagonistas mas também nas políticas. António Costa já não necessita de governar para eleições, este é previsivelmente o seu último ciclo nacional, passando assim a gozar de uma liberdade rara na política nacional.
Ao PSD cabe interpretar os resultados das eleições, assumir a derrota e contribuir para a estabilidade do país. O Partido Social Democrata é um partido de Governo, está no seu ADN e, para que tal aconteça, terá de se afirmar como real alternativa, voltar a ocupar a liderança do centro-direita e estruturar uma agenda reformista, capaz de mobilizar e agregar os sectores mais dinâmicos da nossa sociedade. Só assim voltará a ser um partido verdadeiramente nacional, capaz de disputar o eleitorado urbano e jovem. Por agora cumpre o papel de oposição, que a exerçamos ativa e responsavelmente.
Militante do PSD