A minha geração é a primeira a viver pior do que a anterior. Os salários são precários e a habitação um luxo. Não nos conseguimos emancipar. Contudo, e perante umas eleições de enorme importância para o nosso futuro coletivo, até um otimista como eu tem dificuldade em acreditar num amanhã melhor.
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Viramos à esquerda, viramos à direita e a classe política está hoje rotulada e desacreditada. Os casos judiciais multiplicam-se, todos são suspeitos e já não sabemos em quem confiar.
Estas eleições legislativas ficam marcadas por uma angustiante falta de esperança. As ideias, as propostas e os debates deram lugar às escutas, às buscas e às detenções. Os casos e os casinhos de quem, muitas vezes, depende da política minam a confiança dos cidadãos numa atividade que deveria ser nobre e altruísta.
A política não é uma profissão, é uma missão e, para isso, é preciso dela não depender. Mas se a suspeição reina perante os agentes políticos, a justiça não fica melhor na fotografia. O país não se pode resignar aos julgamentos de tabacaria. Não podemos, enquanto sociedade, aceitar que a presunção da inocência ou o segredo de justiça sejam meros pormenores. É inaceitável os jornalistas serem pré-avisados de buscas. A justiça é nos tribunais, não é nos jornais.
Os populismos e os extremismos fazem-nos crer que há caminhos fáceis. Mas não há. A corrupção, infelizmente, não é do partido A ou do partido B. É da espécie humana. Temos de dar o exemplo, enquanto cidadãos, no nosso dia a dia. Não meter cunhas, não fugir aos impostos ou não ultrapassar filas seria um bom começo. Quanto à classe politica, dela não depender será meio caminho andado.
* Presidente da Federação Académica do Porto