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As eleições europeias acabaram por concretizar, nos vários estados-membros, uma clara afirmação do espaço político à direita.
Com efeito, pese embora ser só por 1%, Portugal foi um dos poucos países onde os socialistas venceram.
A primeira lição a retirar foi que a extrema-direita não conseguiu progredir como desejava. Deixou alguns resultados complexos, como foi em França, na Alemanha ou na Áustria, vencendo ou ficando em segundo lugar. Afirmou-se como a terceira força em Espanha e tremeu muito em Portugal. Em França, Macron compreendeu o alerta e já marcou eleições legislativas e na Alemanha o SPD tem de procurar retirar as lições de ser a terceira força política no Bundestag. Acima de tudo foi a ideia de uma migração descontrolada que continua a assustar as populações desses países.
Aliás, as eleições permitem, em Portugal, algumas leituras curiosas. A primeira é que o sistema partidário bipolar continua sólido. PS e AD dividem, separados por 1%, 15 deputados e a grande novidade acabou por ser a Iniciativa Liberal, cuja prova de vida ganhou novo ímpeto, ao conseguir eleger dois deputados europeus. O Chega não repetiu o resultado das últimas legislativas e o seu candidato não conseguiu mobilizar os eleitores de protesto ou abstencionistas. Um verdadeiro fracasso que Ventura já assumiu.
Depois ficou a sobrevivência do Bloco e da CDU que, no limite, conseguiram eleger um deputado. Fraca expressão para quem já teve uma grande representação europeia.
Acima de tudo, o eleitorado disse, com estrondo, que prefere a União Europeia como está, num equilíbrio entre o PPE (centro-direita), os SD (socialistas) e os liberais, mas deixou um alerta e uma atenção às políticas migratórias permitindo as fronteiras abertas, mas com regras e um controlo mais atento.
Foram indiscutivelmente as eleições em que a participação popular procurou ter uma leitura europeia e uma vontade política sem resultados internos, em que a exceção parece ser a França e a Bélgica.
Em Portugal, o Governo vai continuar a governar e o PS percebeu que o próximo momento de tensão do sistema político será na discussão do Orçamento para 2025. Será o teste da estabilidade política.
Um outro vencedor acabou por ser António Costa. Estreou-se como comentador político e viu o primeiro-ministro a manifestar o seu apoio a uma eventual candidatura a um cargo europeu. No fundo, será o resultado da inevitável partilha do poder europeu e para Costa a possibilidade de continuar a fazer política. Para Portugal será sempre a possibilidade de ter um seu cidadão num alto cargo internacional.