Saber ganhar e saber perder
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Os resultados das últimas eleições legislativas confirmam uma tendência inquietante: o Chega consolidou-se como uma das principais forças políticas do país, muito possivelmente como a segunda força nacional.
O avanço da extrema-direita não acontece por acaso. Alimenta-se do descontentamento de quem trabalha muito e vive com pouco, de quem sente que o sistema político deixou de responder às suas necessidades. O populismo cresce porque os partidos tradicionais falharam em dar respostas a quem vive com dificuldades reais — rendas incomportáveis, salários estagnados e falta de perspetiva de vida digna para os jovens. Quando as políticas falham, os extremos crescem.
Perante este cenário, os partidos moderados têm uma responsabilidade acrescida. A Aliança Democrática, como força vencedora, deve assumir o dever de governar com responsabilidade, sem ceder ao radicalismo, e respeitando o Partido Socialista que, embora derrotado, continua a ser um pilar da democracia. Mas esse caminho só é possível se o PS souber estar à altura do momento e viabilizar uma solução de governo moderada, sem amarras à extrema-direita. Infelizmente, o discurso de demissão de Pedro Nuno Santos falhou esse teste, ao negar qualquer apoio ao Governo da AD.
Portugal precisa de estabilidade, mas também de decência política. Não se trata de acordos de bastidores nem de um bloco central implícito. Trata-se de colocar o interesse nacional acima do cálculo partidário. Se os moderados forem destruídos, o país ficará entregue aos extremos e à degradação da democracia. É tempo de diálogo, de responsabilidade e de coragem democrática. É hora de colocar a próxima geração à frente da próxima eleição. O futuro da democracia portuguesa exige-o.
* Presidente da Federação Académica do Porto