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O reforço de segurança à volta da juíza que acusou Marine Le Pen deveria inspirar-nos, a todos, ao cerco sanitário necessário à poluição produzida pelos autodenominados impolutos. A extrema-direita francesa, covil de corrupção por financiamento indevido há tempos imemoriais (à semelhança de toda a extrema-direita europeia), é um belíssimo paradigma para a desmontagem moral de cartazes populistas que vemos nas ruas, onde as comparações gratuitas devem ser levadas à justiça como Montenegro pretende, independentemente da culpa ou inocência que se venha a provar. Limpar Portugal é um belíssimo “slogan” para quem tem feito vida subvertendo a lei dos mais fracos, porventura porque pretende colocar o país verdadeiramente limpo, ou seja, como resultado de um saque.
Emmanuel Macron bem pode dizer que a justiça é independente e assegurar que deve ser protegida. No seu Conselho de Ministros, apologético, o mundo real não entra. No mundo de verdade, dois dias depois da condenação da líder da União Nacional por desvio de fundos do Parlamento Europeu, são mais do que muitos os ataques a juízes pela extrema-direita, nomeadamente a Bénédicte de Perthuis, juíza especialista em crimes financeiros, agora com protecção policial diária. A condenação de Marine Le Pen, para além de outras vinte e três pessoas e do próprio partido Rassemblement National, é o primeiro momento em que a França se confronta com uma camisa de forças onde a democracia luta com a demagogia e a violência que lhe está associada. Se ceder, como o sistema judicial cedeu a Trump nos EUA, a contaminação será evidente. Uma vez mais, é a França a iluminar caminho.
As fontes de financiamento da extrema-direita europeia estão bem estudadas e documentadas, nomeadamente a portuguesa. Falta coragem para que tudo se saiba, sistematizado, organizado e fruto de investigação, editado, para que tudo seja claro. O medo que impera num mundo de protecção do colarinho, onde tarifas plásticas são impostas pelo sabor circunstancial dos ventos para onde sopra Trump ou para onde viajam os ânimos do prejuízo da Tesla de Elon Musk.
Sair à rua é, ainda hoje, uma demonstração de determinação e poder. Amanhã será um sábado quente no mundo. Em Portugal, activistas norte-americanos organizam protestos anti-Trump e outras manifestações contra Trump e Musk decorrem, simultaneamente, em muitas cidades dos EUA e do mundo, em nome do movimento “MoveOn”. Um protesto em frente à AR está também marcado na sequência do caso da suposta violação de uma jovem por três “influencers” e a CGTP prevê um “grande momento de luta” numa manifestação nacional. Simultaneamente, democratas dos EUA convocam protestos contra Trump em cinco cidades espanholas e a Turquia protesta contra Erdogan. Talvez seja na rua, no combate ao medo, mais do que nos “outdoors”, que se venha a limpar a política.