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Portugal, ou melhor, a Área Metropolitana de Lisboa assistiu a um conjunto de distúrbios e de perturbações de ordem pública a propósito da morte de um cidadão por um agente da PSP.
Imediatamente, as televisões começaram a desenvolver as suas leituras de análise do acontecimento procurando condicionar a opinião pública para um julgamento apressado do que tinha acontecido. Foi particularmente doloroso ver alguns diretos dos locais do acontecimento pelo discurso jornalístico algo confuso e complexo que se foi produzindo.
No meio disto tudo, a ausência do poder político, no teatro dos acontecimentos, veio manifestar um sentimento de angústia para todos nós. Durante algum tempo, bombeiros e forças de segurança estiveram entregues a si mesmos e ao protocolo previsto para resolver tais situações.
Não podemos escamotear o problema. Houve um problema de ordem pública e de mimetização da situação, a exemplo do que se passa, com muita frequência, nos bairros periféricos de Paris ou noutras capitais europeias.
Vieram logo a seguir os comentadores do costume evidenciar soluções para o problema, apelando a mais dinheiro para ali e para acolá.
O que se pode retirar desta situação é que a política de bairros sociais, nas grandes cidades, arrasta consigo outros problemas, como a segregação de algumas populações, o sequestro de outras e o domínio por máfias ligadas à criminalidade jovem.
Uma sociedade com mais desigualdades e menos tolerância é uma sociedade em perda e não será com discursos securitários como os do Chega que vamos conseguir resolver o problema.
Penso que o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, esteve bem quando foi ao terreno e, de uma forma pragmática, analisou e soube separar o trigo do joio.
No meio disto tudo, o Governo anunciou mais um grande programa de reabilitação para a AML que sozinho pode custar o equivalente a um PRR a que se soma um outro para o famoso Aeroporto de Lisboa.
No final deste episódio fica mais uma conclusão: a macrocefalia de Lisboa continua.
Dois nomes precisamos de juntar a esta preocupação. O de Odair e o de Tiago. O primeiro porque não se compreende o que lhe aconteceu e o segundo porque foi vítima de uma expressão contestatária que o tempo veio a demonstrar nada mais ser do que uma manifestação de impacto criminal.
Pelo meio fica o jovem agente da PSP, terá 21 anos, e que aparentemente será o bode expiatório desta situação.
Parece que seria importante olhar para este problema e procurar estar mais atento. A PSP merece ter condições para poder trabalhar. Os seus agentes devem obter a formação necessária para estas situações. As autarquias evitarem construir guetos e apostarem mais na mediação cultural como forma de contribuir para uma sociedade mais inclusiva. Até lá, vamos ter sempre os discursos populistas. Na extrema-direita mais duros e na extrema-esquerda a apostarem no desarmamento das forças de segurança.
No meio deve estar a virtude. O Governo e a Oposição responsável devem estar atentos porque vai ser tema da próxima campanha autárquica.