Serviço público: a dificuldade de recrutar e fixar profissionais
Corpo do artigo
De vários setores chegam queixas sobre a falta de profissionais nos serviços públicos: professores, médicos, investigadores, operacionais das forças armadas e de segurança, técnicos superiores em diferentes áreas, como a informática ou os serviços jurídicos. Esta falta de profissionais é paradoxal, porque, hoje, as instituições de ensino superior formam mais de 80 mil diplomados por ano e dispõem de capacidade para dar resposta às necessidades mutáveis de qualificação em todas as áreas científicas, disciplinares e profissionais. O esforço de formação, em todos os níveis e áreas, tem de continuar, mas pode dizer-se que, em termos agregados, nunca o país dispôs de tantos quadros qualificados como atualmente. E também nunca dispôs de tantos recursos e oferta de cursos para promover formação de jovens e de adultos.
O que explica então a dificuldade em recrutar profissionais e dirigentes para os serviços públicos?
Os salários dos profissionais mais qualificados são, no setor público, em regra, mais baixos do que no privado. E essa é uma dificuldade evidente em atividades como a informática. Mas em muitas outras áreas, como no ensino e na saúde, essa não é a principal razão. Para além da questão das remunerações, há certamente outros fatores explicativos. Desde logo, fatores relacionados com a imagem dos serviços públicos, da qualidade do seu funcionamento, do cumprimento da sua missão e objetivos.
Como olham os atuais profissionais ou jovens diplomados para o setor público, para o trabalho nos serviços públicos, para o que significa servir, cuidar e atender? Que imagem dão os serviços públicos e os seus profissionais de si próprios? Que visão transmitem os governos sobre o que esperam e o que querem dos serviços públicos e dos seus profissionais?
O serviço público é hoje mais difícil do que no passado. Alargaram-se e são definidos constitucionalmente como universais, portanto é hoje maior a diversidade de cidadãos que deles beneficiam. As regras de funcionamento são geradoras de bloqueios burocráticos e, em muitos casos, penalizam quem decide. Ao mesmo tempo, os beneficiários dispõem de mais informação, são mais exigentes com a qualidade e têm expectativas de participação.
Parece-me que é grande o desencontro entre as exigências do serviço público e as aspirações dos profissionais. A degradação da imagem dos serviços públicos e a dificuldade do seu funcionamento alimentam o desinteresse por este, pela responsabilidade de servir, de atender, de cuidar.