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Não estive na bancada, com os meus concidadãos, no último jogo do Vitória. Tinha um concerto no Hard Club e um prévio jantar com amigos numa tasca perdida no meio das estreitas ruelas da Ribeira. O concerto foi competente, mas o jantar foi absolutamente extraordinário.
No meio da praga dos restaurantes para turistas, há sempre alguém que desalinha, resiste e nos transporta no tempo, mas para trás. Na tasca a ementa era intraduzível. É o homem que nos serve que nos lê a ementa como se fôssemos analfabetos. E éramos. A sua linguagem revela pormenores que a ementa escrita desconhece. O trio de ataque era constituído na ponta direita pela mulher, e na ponta esquerda pela sogra, o homem era o ponta de lança.
A simplicidade das coisas é bela. Tal como os copos rasos que não davam para fazer aqueles estranhos bailados com o vinho, e ainda bem.
Entramos em campo na Ribeira com iscas, bolinhos de bacalhau, moelas, uns chocos fritos divinais e papas de sarrabulho para compor, enquanto o Vitória entrava em campo com o dobro dos jogadores nacionais do que o campeão. Ganhámos na tasca, não ganhámos no campo, como merecíamos ter ganho. Leio, no dia seguinte, as declarações do Jota e do Di María. Jota desvalorizando o estado do terreno, lembrando que ainda há pouco jogava nos distritais, e aí é que era duro e difícil jogar. Di María com queixumes mesquinhos, eivados da superioridade que não tiveram em campo. O Jota é, indubitavelmente, muito melhor que o Di María, pelo menos em carácter, tal como a comida da tasca, onde sabem o que é redanho e o confecionam na perfeição. Gente simples, gente boa.