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O PSD está indignado com uma campanha da Direção-Geral da Saúde (DGS), dirigida por Rita Sá Machado, a jovem médica escolhida para o cargo pelo anterior Governo socialista.
Em causa está um inquérito online cujos resultados pretendem traçar um diagnóstico sobre a saúde menstrual em Portugal. No questionário, é utilizada a expressão “pessoas que menstruam” em vez da palavra “mulheres”.
A bancada dos sociais-democratas não gostou e exigiu a presença da ministra da Saúde no Parlamento. Quer explicações. Quer saber se Ana Paula Martins teve conhecimento e autorizou a linguagem usada no questionário. Alegam que o termo “motivou forte contestação e polémica junto da sociedade civil” (quando e onde?). Diz ainda que a mudança de linguagem “deriva da ideologia defendida por alguns e não da ciência”.
Usar uma linguagem mais inclusiva não é tentar impor as nossas ideias aos outros. O questionário em causa não o pretende fazer.
A palavra “pessoas” abrange transexuais, intersexuais e não binários. Os transexuais com útero, e que pretendem mantê-lo, não podem ser desafiados a responder ao inquérito que a DGS lançou a 9 de julho?
Este pedido de esclarecimento do PSD à ministra da Saúde é manifestamente exagerado e a sua relevância política é discutível.
A polémica à volta da troca da expressão “mulheres que menstruam” por “pessoas que menstruam” não é nova nem exclusiva de Portugal. Alguns movimentos feministas argumentam que utilizar a palavra “pessoa” é reduzir a mulher apenas às suas funções biológicas. A socióloga Djamila Ribeiro fala mesmo de “sexismo biológico”.
O debate é importante, até porque somos cada vez mais politicamente corretos e assistimos a uma cultura woke e do cancelamento a tocar no exagero. Todos nós já medimos as palavras que usamos.
Não há problema que não exista consenso, desde que não se promovam atitudes discriminatórias e preconceituosas. Ou que se aproveite um tema de saúde pública para conquistar eleitorado do Chega.