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As grandes vagas transformadoras e modernizadoras quase sempre chegam mais tarde à Saúde, mas, quando chegam, é em força, de forma estruturada e numa abordagem universal.
Foi assim com os sistemas automáticos de informação, e tem estado a ser assim com a exploração de grandes volumes de dados ou com a aplicação da inteligência artificial.
As razões para este deslizamento no tempo estarão certamente relacionadas com a elevada sensibilidade desta área o que leva, e bem, a ser uma das mais regulamentadas, mais reguladas e mais escrutinadas. Tudo o que aqui se passa, passa por muitos e apertados filtros.
E nessa linha, todas as dinâmicas associadas à sustentabilidade, que têm vindo a fazer caminho, há já alguns anos, praticamente em todas as áreas da atividade produtiva e da indústria transformadora, só agora começam a surgir em toda a sua plenitude no ecossistema da Saúde e, mais uma vez, de forma acelerada, posicionando-se ao nível do que se poderá considerar o estado da arte global neste domínio. Como se estivéssemos a recuperar o tempo perdido, por um lado, e a beneficiar do conhecimento e das aprendizagens entretanto desenvolvidas, por outro.
É coisa para se consolidar num curto espaço de tempo e já na abordagem integrada, que está na crista da onda, referida como ESG, iniciais de Environmental, Social, and Governance, cuja tradução em português será: Ambiental, Social e de Governação.
Além da componente ambiental, pretende-se também assegurar, desejavelmente de forma agregada e coerente, a sustentabilidade na vertente social e no governo das empresas e de outras instituições que atuam no mercado.
No social, têm peso aspetos ligados aos direitos humanos, à igualdade salarial e de género e, cada vez mais, as preocupações com a compatibilidade entre a vida profissional e a pessoal. Na governação, entre outras, têm relevo medidas relacionadas com a ética, a transparência, ou a prevenção da corrupção, a par das políticas salariais, de compras responsáveis ou de gestão de riscos.
Trata-se de um edifício normativo e regulador de grande dimensão e complexidade, que, numa primeira abordagem, podemos ser tentados a considerar como um entrave ou uma força de bloqueio ao desenvolvimento das indústrias da saúde, em particular, e ao bem-estar dos cidadãos, de uma forma geral.
A minha leitura, contudo, vai no sentido oposto. Vejo esta realidade, cujo crivo vai certamente ainda apertar e com isso a sua complexidade, além do imediato e eficaz contributo para o aumento das garantias e da segurança dos cidadãos e dos doentes, como uma forma inteligente de o chamado Ocidente se defender e proteger das investidas avassaladoras, desregradas, concorrencialmente desleais e sem o mínimo respeito por valores tão fundamentais como os direitos humanos ou a elementar proteção do meio ambiente que, em crescendo, não param de chegar de outras geografias, nomeadamente da China, da Índia e de territórios contíguos.
É mais um desafio, a que, estou certo, também as empresas portuguesas não terão dificuldade em responder, que espero se possa afirmar como um importante fator de competitividade, no contexto global, com óbvios benefícios para o consumidor.