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A guerra comercial iniciada por Donald Trump - entretanto suspensa parcialmente por 90 dias - está a infligir danos sérios nos mercados financeiros e na economia global. Ao impor tarifas alfandegárias, os Estados Unidos aumentaram o custo das importações, penalizando diretamente os consumidores com preços mais altos e as empresas com encargos acrescidos. Se, a curto prazo, esta estratégia pode criar a ilusão de proteção económica interna, a longo prazo todos saem a perder, incluindo os próprios EUA.
Esta ofensiva protecionista contraria abertamente o princípio das vantagens comparativas, desenvolvida por David Ricardo no século XIX. Segundo esta teoria, cada país deve especializar-se na produção dos bens em que é relativamente mais eficiente e trocar com outros países para benefício mútuo. As tarifas, pelo contrário, distorcem os incentivos, reduzem a produtividade global e alimentam uma perigosa lógica de retaliação.
Perante este cenário, a União Europeia deve agir com firmeza, mas sem abdicar do diálogo. A presidente da Comissão Europeia já declarou que a suspensão provisória das tarifas constitui uma “oportunidade para o entendimento”, deixando claro que a UE está preparada para reagir - cenário que ninguém deseja, mas que não pode ser excluído.
Se levada até às últimas consequências, a política económica de Trump pode comprometer décadas de avanços na globalização dos mercados e na integração económica internacional. Ignorar a racionalidade das vantagens comparativas é uma estratégia onerosa e insustentável, cujos consumidores e trabalhadores serão os primeiros a pagar a fatura.
* Presidente da Federação Académica do Porto