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"A peste do Governo
é a irresolução. Está parado
o que havia de correr,
está suspenso o que
havia de voar; porque não
atamos nem desatamos"
Padre António Vieira
O recente debate do estado da nação, no Parlamento, deixou claro algumas coisas. Falta uma Oposição ativa e um Governo que governe. Ficou evidente que o estado de graça do Governo já teve melhores dias. Mesmo aqueles que acreditaram que o primeiro-ministro ia conseguir dar a volta ao problema sem fazer reformas perceberam que as dificuldades estão a chegar e não existem milagres.
São muito os problemas. Alguns com origem na própria ineficácia do Governo, outros por causa de fatores externos como a natureza ou a guerra.
Ultrapassado o tempo da troika, repostas as políticas expansionistas, é preciso fazer alguma coisa, porque não chega dizer que a culpa é de Passos Coelho.
Daí a constante tentativa de fazer acreditar os eleitores que se está a fazer qualquer coisa.
São os problemas no Serviço Nacional de Saúde. São os incêndios e a seca. É a confusão do Aeroporto de Lisboa. O aumento da inflação e das taxas do BCE. São os problemas das matérias-primas e do custo da energia e dos transportes, que a guerra Rússia-Ucrânia está a provocar.
O constante receio de fazer reformas, optando por pequenas medidas que mereçam o consenso de todos, principalmente da extrema-esquerda, mostra como Portugal se está a deixar atrasar na União Europeia. Tudo, infelizmente , parece apontar para que, a breve trecho, só a Bulgária fique atrás de nós. Triste fado para este povo.
Perante isto, o primeiro-ministro tocou a reunir. O Governo avalia a situação e vai procurar encontrar um novo fôlego. O primeiro-ministro elogia o anterior líder do PSD e reúne com o atual para procurar encontrar uma solução para o Aeroporto de Lisboa.
Ao mesmo tempo, vemos o Chega a transformar o Parlamento numa casa de amuos e berros. Vemos o presidente da Assembleia da República preocupado com a Presidência da República e a comportar-se não como um par entre pares, mas antes como alguém que quer intervir e fazer pedagogia política. Vemos o PSD a procurar o seu novo ritmo político.
O que o povo sabe é que as coisas não estão bem e que o ano de 2023 pode ser ainda mais complicado. É, pois, o tempo de começar a fazer as reformas de que o país precisa.
Para isso, vai ser preciso apelar ao centro político, onde sempre se fizeram todas as grandes transformações políticas, sociais e económicas. A comissária Elisa Ferreira já alertou que Portugal tem de começar a aprender a viver sem fundos comunitários.
Vamos refletir na profundidade das sábias palavras do Padre António Vieira, porque estamos num tempo de dificuldades e não atamos nem desatamos.
*Professor Universitário de Ciência Política