Os ranchos de trabalhadores agrícolas, que se deslocavam pelo país pernoitando em armazéns apinhados são memórias ainda muito presentes no nosso país rural. Os bailes, a gastronomia e toda a etnografia fazem parte da nossa herança cultural. Tal como a pobreza que se vivia.
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A evolução dos direitos laborais, a criação do salário mínimo, trouxe dignidade e abriu perspetivas de futuro para as gerações vindouras. O elevador social arrancou.
Os portugueses conquistaram o direito de escolha e maioritariamente deixaram a lavoura, optando preferencialmente pelo setor dos serviços, turismo e restauração. Trabalhos mais leves, mesmo quando não qualificados.
Hoje, e apesar da evolução mecânica da agricultura, a necessidade de trabalho manual ainda existe em muitas culturas, desde os frutos vermelhos às seculares vinhas do Douro, berço do nosso ex-líbris vinho do Porto. Assim, o recurso a trabalhadores imigrantes tornou-se imperativo para agricultura do país.
Com a desajeitada e imponderada ação do Governo no ZMAR, o país mediático e político acordou para o que já conhecia, mas nada fez para contrariar. Explorados por redes internacionais de trabalho temporário, oriundos da miséria, milhares de imigrantes encontram trabalho no nosso país, mas não a dignidade.
Não falam a língua, não conhecem os seus direitos. Isolados e ignorados, lutam, desarmados, por um presente e futuro melhor para si e para os seus, num sentimento vivido por tantos dos nossos emigrantes. Em Paris, nos anos 50 e 60, também sofremos e sonhámos como eles. E em Portugal, já vencemos estas desigualdades e conseguimos futuro para "ratinhos", "caramelos" e "bimbos".
Olhe-se a situação de frente, fiscalize-se, cumpram-se as leis e acolham-se estas pessoas. Porque é justo. Porque os entendemos. Porque já fomos nós. Porque o nosso setor agrícola e o nosso futuro dependem, também, deles.
Engenheiro e autarca do PSD