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A semana passada argumentei que baixos salários são uma das razões para partir, emigrar. Muitos defendem que não há aumento de salários porque em Portugal é baixa a produtividade e a produção de riqueza. Raros são os que acrescentam os obstáculos relacionados com a distribuição da riqueza produzida, com o aumento da distância entre salários médios e salários de topo, ou o aumento das desigualdades de rendimentos e a concentração da riqueza num número diminuto de ricos. Porém, estas são tendências que explicam boa parte da estagnação e perda de salários em muitos países, sobretudo em sociedades como a norte-americana ou, na Europa, a portuguesa.
Historicamente, o aumento dos salários foi conseguido quando os trabalhadores tiveram força para o reivindicar, nomeadamente através da ação sindical operária. O que exigiu sindicatos fortes, representativos e com capacidade negocial. As políticas de redistribuição foram e continuam a ser muito importantes para a melhoria das condições de vida de todos, mas não substituem o papel dos sindicatos na defesa dos salários dos trabalhadores.
Em Portugal os sindicatos estão, há muito, em perda de representatividade. Perda que se traduz numa presença cada vez menor no espaço público, o que contribui para acentuar aquele enfraquecimento, e, portanto, a sua perda de poder de representação e por adiante, numa dinâmica negativa, cumulativa, difícil de travar. Dinâmica reforçada pela reduzidíssima participação de trabalhadores e dirigentes sindicais no Parlamento e no Governo, ao contrário do que acontece em países como os escandinavos, onde não licenciados e sindicalistas chegam a deputados e a ministros.
O Governo aprovou a atualização do salário mínimo e tem feito pressão, em sede de concertação social, para o aumento geral dos salários. Porém, enquanto entidade patronal lembra o provérbio “faz o que digo, não faças o que eu faço”. E não demonstra grande preocupação com a capacitação sindical, fruto de uma conceção demasiado corporativa da concertação social, na qual desempenharia um papel de árbitro.
Entretanto, no outro lado do oceano a imprensa internacional destacou, esta semana, a visita de Joe Biden a um piquete de greve dos trabalhadores da indústria automóvel, no Michigan. Foi a primeira vez que um presidente dos EUA visitou, falou com e apoiou operários em greve. Dirigiu aos trabalhadores palavras de compreensão e de legitimação das suas reivindicações. Ora, a social-democracia, ou socialismo democrático como esta é conhecida em Portugal, é isso mesmo: a tomada de partido e, portanto, a definição dos sindicatos operários como aliados a capacitar.