É sabido que as Festas do Senhor de Matosinhos, romaria popular com sete séculos de história, estão intimamente ligadas à identidade dos matosinhenses.
Corpo do artigo
A partir deste legado intergeracional, as festas foram evoluindo e assumindo um papel transversal na vida da comunidade. São, claro, um momento de descontração e alegria que une e reúne famílias e amigos. São um momento de celebração profunda que junta crentes e não crentes em torno de uma tradição religiosa.
Mas, com o trabalho continuado que tem sido feito na organização do Senhor de Matosinhos, as festas são hoje um cartaz cultural, gastronómico e turístico incontornável para o concelho e para a região, com um impacto económico enorme, como demonstra o recorde de visitantes deste ano, que atingiu os dois milhões de pessoas.
É extraordinário observar o fluxo de visitantes, a sua diversidade etária, a sua heterogeneidade socioeconómica e, cada vez mais, a sua variada proveniência, bem audível na profusão de línguas que os comerciantes são obrigados a compreender!
Um mar de pessoas que durante mais de três semanas coincidem em Matosinhos de forma pacífica e bem-disposta, com a exigência de encontrar sempre o tradicional - como o fogo dos bonecos ou a magnificência da procissão -, compatibilizado com novidades na programação das festas.
E este é um aspeto fundamental na dinâmica das cidades contemporâneas, que se devem reinventar permanentemente sem esquecerem a sua identidade. Num mundo global e aberto, as cidades são espaços de multiculturalidade, de vida para pessoas com diferentes perspetivas e interesses, mas que encontram no que é autêntico a essência do seu sentido de pertença à comunidade.
As cidades são o espaço nobre da tolerância, da solidariedade, da liberdade, da democracia. São o "locus" da memória e do futuro. São estas as cidades que devemos ambicionar construir, combatendo os fenómenos de exclusão, (re)construindo as relações de vizinhança. Cidades a que podemos chamar a nossa casa e a nossa porta aberta ao Mundo.
A partir dos municípios e das freguesias, dos governos locais que estão mais próximos e atentos ao dia a dia das pessoas, podemos ambicionar encontrar soluções para os velhos e para os novos problemas, construindo com a comunidade os caminhos de resiliência, de inovação e de futuro. Sem nunca baixar os braços e sem nunca esquecer que as causas comuns existem e que é o diálogo democrático, a participação e envolvimento de todos que nos trarão melhores "casas comuns", seja na nossa rua, seja na nossa cidade, seja no nosso país ou em todo o planeta.
* Presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses