O Afeganistão esteve na origem da saída de Durão Barroso para a Comissão Europeia, depois da cimeira dos Açores, e essa situação durou 20 anos, com a ocupação dos aliados.
Corpo do artigo
Antes, em 1980, a invasão soviética já tinha motivado a ausência de Portugal, durante o Governo de Sá Carneiro, nos Jogos Olímpicos de Moscovo.
Foi depois dos ataques do 11 de setembro de 2001 que os Estados Unidos mobilizaram os aliados para invadir o Afeganistão e aniquilar a Al-Qaeda de Bin Laden.
Um ciclo que envolveu quatro presidentes: Bush filho, Obama, Trump e Biden. Uma pergunta parece ser de formular agora: o que estiveram a fazer os EUA e os seus aliados da NATO durante este longo período de tempo?
Neste espaço apareceu o ISIS-Estado Islâmico e aparentemente o problema - terrorismo - parece que se espalhou pelo Mundo.
Uma lição de geopolítica e geoestratégia nasce agora. Independentemente do movimento de resistência interno aos talibãs, uma nova leitura vai vingar.
De um lado, o fracasso americano, com implicações na política interna, com Trump a aproveitar para fazer o seu habitual discurso.
Do outro, a NATO, que não existe sem os EUA. Uma União Europeia sem conseguir fazer um discurso muito além do problema dos refugiados. Um Reino Unido como um gigante vestido de pigmeu.
Perante isto, a Rússia e a China aproveitam para ganhar espaço e influência política. O Irão a procurar ocupar o terreno
Agora, até o antigo primeiro-ministro inglês Tony Blair critica a retirada americana com a autoridade de quem foi um dos criadores deste imbróglio que estamos a viver.
Portugal não evidencia qualquer posição, antes procura passar despercebido nesta confusão.
O Mundo da pós-pandemia traz agora mais mudanças para a política internacional.
Depois da covid-19, temos este novo teatro de operações. O Mundo fica mais perigoso. Além das alterações climáticas ou da saúde pública, o Afeganistão traz para a mesa uma nova ordem mundial, onde acaba um mundo unipolar em volta dos Estados Unidos e surgem novos atores internacionais. Ao lado disto, as democracias têm agora um novo desafio. Esquecer o politicamente correto e estar atentas à tentativa de destruição dos seus valores assentes no princípio da separação dos poderes e no respeito dos direitos humanos.
A gestão dos refugiados implicará uma visão atenta ao extremismo de direita. À esquerda com esta crise voltamos a aprender quais são as diferenças.
*Professor universitário de Ciência Política