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A propósito da participação no Fórum Empresarial Luxemburgo- Portugal, que teve lugar na passada semana e que tinha as tecnologias da saúde como um dos três pilares da respetiva agenda, dei por mim a pensar no longo caminho que temos de percorrer no sentido da harmonização e da uniformização de práticas e de regulamentos nesta área.
Desde logo, e uma coisa tem muito a ver com a outra, é enorme o desconhecimento que todos temos da realidade nestes domínios nos outros países, nomeadamente naqueles que também integram a União Europeia.
Com efeito, cada país tem as suas próprias regras e regulamentos, não raro, diferentes nas várias regiões que o compõem, e os esforços em procurar alinhar com os demais, desde logo com os que lhe estão mais perto, são praticamente inexistentes. Mais, não só é olímpico o desinteresse pelo modo como os outros se organizam ou resolvem problemas que são comuns, como estamos, ingloriamente e em desperdício de recursos - e quão escassos estes são - permanentemente a inventar a roda. No final do dia temos muitas rodas, à primeira vista parecidas, mas suficientemente diferentes para não estarem todas a puxar no mesmo sentido. No contexto dos grandes blocos mundiais, é clara a desvantagem que daí resulta.
O facto de não existir uma política europeia comum para a saúde não ajuda, mas julgo que essa não se contará nas principais causas para este estar de costas voltadas. Afinal, a esmagadora maioria dos desafios são os mesmos e persistimos em procurar ultrapassa-los sozinhos não tirando, por regra, partido das vantagens óbvias da cooperação e do enorme potencial em termos de redução de tempo, de esforço e, consequente, de custos, daí resultante.
Será uma estratégia protecionista para nos defendermos da concorrência? Não parece, mas se assim for talvez também nessa dimensão ganhássemos todos se orientássemos essas defesas para fora e não entre nós!
Recentemente, e no tema dos dados, não deixam de ser boas notícias as dinâmicas em curso associadas à criação do European Health Data Space. Quer as que emanam da Comissão e que, pela sua natureza, se espera que possam operar transformações de fundo e estruturantes, quer as que, em sequência e em complemento, vêm sendo pilotadas pela sociedade civil, de perfil menos buldózer e mais formiguinha. Sou dos que acredita que a combinação de ambas poderá, em breve, dar os bons resultados de que tanto precisamos. Julgo razoável acreditar que poderemos, a breve prazo, beneficiar do que se poderia designar por uma política europeia comum para a utilização inteligente dos dados em saúde. Não formal e explicita, mas efetiva e real.
A conclusão, que pode estar algo toldada por uma ingénua, mas genuína, crença em nós - os europeus -, passa pela necessidade em evoluirmos, rápida e disruptivamente, na dinamização e empoderamento de redes de interesse nas temáticas em causa, a partir de quem está no terreno. Os desafios que temos pela frente - nomeadamente em garantir saúde para todos - exigem que encontremos novos caminhos; as abordagens tradicionais, desgraçadamente, já provaram que não servem.