O conflito entre a Rússia e a Ucrânia fez um ano. Desde a madrugada de 24 de fevereiro de 2022 que o Mundo mudou. A anarquia, que justifica o atual modelo das relações internacionais e que a guerra veio acentuar, evidencia, de uma forma muito preocupante, que a ordem mundial liberal, construída no final da II Guerra Mundial, poderá estar a ser posta em causa.
Corpo do artigo
Ao mesmo tempo a própria ideia de globalização é colocada em crise trazendo ao comércio internacional restrições à circulação de bens e serviços, como as elevadas taxas de inflação mostram, com impactos severos na economia. Só na União Europeia os analistas dizem que o PIB, da Zona Euro, ficará 5,5% abaixo do que poderia atingir sem guerra.
O Mundo transformou-se e está muito mais belicista. A Rússia, segundo o Instituto for Strategic Studies, aumentou os seus gastos militares em 23,6%, ou seja o equivalente a 87,8 mil milhões de dólares, desde o inicio do conflito e apesar das sanções económicas que tem sido alvo.
A Alemanha, mudando o paradigma pacifista da sua doutrina militar pós-guerra, já decidiu aumentar o seu orçamento de defesa para 2% do PIB tornando-se, assim, no quadro da NATO, num protagonista decisivo. A sua vizinha Polónia aumentou o seu orçamento da defesa de 2,2% para 3% do PIB.
Esta corrida à importância dos orçamentos da defesa evidencia o impacto desta guerra onde se pode constatar a impreparação das forças armadas da Rússia e a falta de investimento em equipamento militar por parte da União Europeia.
Olhando para a Ásia, onde Taiwan ganha relevo, a situação não é melhor. A China aumentou os seus gastos militares em 7%, um acréscimo de 16 mil milhões de dólares, num esforço sem precedentes.
O Japão procura responder a esta ameaça, a que acresce a Coreia do Norte, anunciando um aumento de 20% no seu orçamento e um novo conceito estratégico que vai permitir duplicar a despesa de 1% para 2% do PIB.
A Austrália, participando na AUKUS, a Coreia do Sul e as Filipinas estão, também, a assumir idêntica dinâmica militar.
Sinal evidente desta nova situação é o facto de as empresas de armamento americanas se apresentarem, em bolsa, como sendo de grande retorno acionista.
O Mundo tornou-se um lugar muito mais perigoso para se viver e Putin mostrou que a piedade neste conflito não se aplica sequer aos civis inocentes.
Em Portugal aguardamos o novo conceito estratégico de defesa nacional.
Esperemos que o futuro não seja tenebroso e os líderes mundiais compreendam o conselho de Tucídides e fujam à sua armadilha.
*Professor universitário de Ciência Política