Um apagão que deve acender consciências
Vivemos conscientes da possibilidade de acontecimentos extraordinários, mas, quando estes se concretizam, é sempre com surpresa que os enfrentamos.
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O apagão nacional que marcou esta semana foi disso exemplo: um episódio com um certo tom poético e irónico, que revelou com brutal clareza a profunda dependência que temos da eletricidade.Devemos mobilizar-nos, enquanto sociedade, para a crescente exposição a vulnerabilidades que ameaçam o nosso modo de vida.
Refiro-me ao acesso aos cuidados de saúde e ao funcionamento hospitalar, às comunicações, à segurança pública, à manutenção de infraestruturas críticas como o abastecimento de água, a mobilidade, a internet, a logística alimentar ou a conservação adequada de medicamentos.Desta vez, correu relativamente bem.
Mas será sempre assim? Se este apagão tivesse sido um teste generalizado, temo que os resultados não nos deixassem tranquilos. O progresso tecnológico que tanto nos orgulha é também, paradoxalmente, uma das principais fontes da nossa fragilidade coletiva. Por isso, não precisamos de vozes populistas e alarmistas, mas sim de uma estratégia firme de prevenção e preparação.Diz-se que “o sol, quando nasce, é para todos”.
Mas basta olhar para tantas regiões do mundo devastadas pela guerra e pela pobreza, para perceber que, nesses lugares, a luz ainda não se acendeu — nem no horizonte físico, nem no humano. Que o nosso breve apagão sirva também para lembrar que há realidades onde a escuridão é permanente. E que não há verdadeira luz enquanto ela não for, de facto, para todos.É irónico, mas profundamente simbólico, que hoje, como no passado, para sairmos deste apagão… precisemos de um novo iluminismo.
* Presidente da Federação Académica do Porto