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As recentes eleições em Espanha vieram revelar de uma forma evidente que as indefinições sobre o papel da extrema-direita na formação de maiorias parlamentares e de participação no Governo arrastam para o eleitorado.
O Partido Popular acabou por não atingir a maioria necessária para formar um Governo, ao contrário do que aconteceu no Senado onde conseguiu a maioria absoluta, por não ter sido claro em relação ao papel que reservava ao Vox. Certo de que, no momento que escrevemos, Pedro Sánchez tem a expectativa de reeditar a geringonça de António Costa, criando um paradigma e mostrando que à Direita não basta ganhar eleições, é também preciso obter uma maioria absoluta.
O que se passa em Espanha pode vir a acontecer em Portugal, onde o PSD poderá ser prejudicado, como aconteceu com Rui Rio, quando não quis esclarecer o papel destinado ao Chega nesta equação. Poderá estar aqui a causa do PSD não conseguir descolar nas sondagens de uma forma clara face ao Partido Socialista pelo receio que imputa ao eleitorado.
Os exemplos da Hungria e da Polónia justificam essas dúvidas, enquanto o caso de Itália ainda não forneceu elementos suficientes que permitam elaborar uma análise final. Em França esta situação vai ser motivo de reflexão nas próximas eleições presidenciais, já que o espaço centrista está a ser absorvido pelos extremos de Direita, Marine Le Pen e de Esquerda Mélenchon.
A Direita vive assim um momento de procurar saber como deve atuar com a extrema-direita e os populistas e de que forma consegue formar maiorias coerentes e estáveis que permitam a governação.
O separar das linhas vermelhas ao não ser assumido está a permitir à Esquerda manter-se no poder e a governar mesmo quando o eleitorado dá sinais de descontentamento sobre a sua atuação.
Tem, pois, a Direita um drama com a sua extrema, já que a Esquerda sabe lidar com a sua de uma forma mais aparente. Isto é, junta-se à volta da mesa do Orçamento e toma decisões que acabam por inviabilizar o normal desenvolvimento da economia portuguesa.
Esta é uma armadilha que a Direita deve evitar cair e, para isso, tem de ser muito clara.
Um voto na extrema-direita é um voto perdido porque retira espaço a uma maioria e não ajuda o centro moderado a ganhar e dessa forma tomar a iniciativa de fazer as reformas que são urgentes.
A maioria absoluta do PS assentou muito neste equívoco.
Agora, o presidente da República, com o veto ao decreto dos professores, mostrou ao Governo que está disposto a fazer aquilo que a Oposição não sabe fazer no Parlamento. Criar dificuldades e fechar o campo político ao Governo. Os próximos tempos prometem, já que acabaram as cativações.