O Alto Douro Vinhateiro é Património Mundial há 20 anos. As comemorações - que serão felizmente mais do que uma evocação - foram ontem apresentadas, num ato simbólico que juntou a CCDR-Norte, responsável pela salvaguarda e gestão da classificação da UNESCO, a um vasto conjunto de poderes e instituições regionais. A iniciativa mereceu da parte do Senhor presidente da República o seu "alto patrocínio".
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O que tornará esta celebração especial não é o seu recorte institucional ou a natural vaidade dos discursos que serão proferidos, mas o facto de colocar no centro da sua programação e do seu debate as pessoas. Foi a resiliência das suas gentes e uma força coletiva anónima que fizeram o Douro "Património Mundial" e fazem aquilo que é hoje. Devolver essa conquista às populações e olhar o futuro do território são as únicas formas de tornar justa e oportuna esta iniciativa.
Na produção da ópera comunitária "Mátria", criada a partir de textos de Miguel Torga, e que soube juntar numa orquestra e num coro cidadãos de várias gerações e geografias durienses, encontramos o espírito desse território humano e da força de uma participação coletiva. Tal como na campanha de marketing territorial que, em vez de paisagens, fará de heróis anónimos destes 20 anos os seus protagonistas.
Existem motivos de sobra para celebrar o selo da UNESCO no Douro Vinhateiro. Devem ser lembrados. Esse selo ajudou a projetar o "reino maravilhoso", de que falava Torga, na cena internacional, criando melhores oportunidades de vida; e responsabilizou-nos mais na salvaguarda da sua singular "paisagem cultural".
Há 20 anos, as taxas de abandono escolar aqui eram de 17% no 2.o ciclo e de 25% no 3.o ciclo. Hoje, são marginais. A riqueza média per capita era de 73% da riqueza produzida no Norte, sendo atualmente superior a 85%. No turismo, o Douro afirmou-se como um destino de excelência, mais que duplicando as dormidas e, sobretudo, incrementando o seu valor. Os seus vinhos ganharam prestígio internacional e melhores níveis de rendimento, tornando menos injusta a difícil atividade agrícola. Nos serviços culturais, consolidaram-se casas prestigiadas e criaram-se o Museu do Douro e o também duriense Museu do Côa. Em contraponto, perderam-se nos últimos 20 anos mais de 30 mil habitantes, sobretudo devido a um saldo migratório muito negativo.
Como em tudo na vida, não basta puxar os galões do passado. É necessário assumir os desafios do presente e do futuro, numa responsabilidade que é coletiva. A crise demográfica e as alterações climáticas são alguns desses reptos incontornáveis. Também para isso - e para um Douro mais humano - serve esta celebração.
*Presidente da CCDR-N