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O Mundo assistiu, em direito, à discussão entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky, com a intermediação de JD Vance, sobre a paz na Ucrânia. Foi, sem dúvida, um momento triste na história das relações internacionais e que evidencia o nível e a qualidade destes novos dirigentes mundiais. Na Sala Oval do gabinete do presidente dos Estados Unidos vimos pessoas a mentir e outras a faltar à verdade.
Uma conclusão parece que se pode retirar. O presidente dos Estados Unidos, o aliado das democracias e o paladino da defesa da liberdade pareceu querer dar um golpe fatal na ordem internacional herdada da Segunda Guerra Mundial. Verdade? O tempo trará a resposta. Desde logo, com a NATO que Emmanuel Macron considerava no tempo do Trump 1.0, em morte cerebral, os EUA vão continuar a permanecer na aliança que alguns consideram a última relíquia da Guerra Fria?
Os aliados ocidentais já se reuniram, em Londres, para propor um plano para a paz na Ucrânia que envolva a União Europeia, a Turquia e o Canadá, afinal os outros parceiros da NATO.
O desenvolvimento deste processo já deixou claro que as relações internacionais e a respetiva nova ordem vão ser diferentes. Trump olha, assim, para as relações internacionais num modelo de negócios que tanto privilegia e, por isso, tinha a ambição de ficar com as terras raras ucranianas sem querer comprometer-se com o sistema de segurança da Ucrânia face à Rússia. Pela primeira vez, uma administração americana não se mostrou solidária com a sua antecessora na gestão desta crise, ao invés do que aconteceu na guerra do Vietnam quando um conflito iniciado pelos democratas (Kennedy e Johnson ) foi concluído por Nixon.
Trump parece querer regressar a uma ordem internacional que pensávamos ultrapassada, desde a Conferência de Berlim (1884), quando Bismarck juntou as várias potências coloniais para partilhar o continente africano. Nesse momento, de má memória para Portugal, os grandes impérios coloniais tomaram decisões que só na década de 60, do século XX, permitiram a libertação e a independência desses estados africanos depois de longas e dolorosas guerras.
Esta alteração da ordem internacional liberal para a qual os Estados Unidos foram decisivos na sua concretização está em coma profundo. Ao mesmo tempo, a ONU, enquanto organização responsável pela promoção da paz, foi completamente ultrapassada e ninguém vislumbra a sua utilidade para este conflito.
Estamos, pois, numa encruzilhada que nos impele a manter esta ordem internacional e a recusar o regresso a um modelo que parece ser de inspiração colonialista,
Até lá, temos de nos preparar para reforçar os orçamentos da defesa porque terminou o tempo em que os americanos pagavam a despesa toda sozinhos.