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A semana passada fomos surpreendidos pelo desaparecimento de Miguel Macedo. Um político que tinha um sentido elevado da responsabilidade de Estado. Alguém que na luta política, como todos os seus adversários o reconheceram, soube ser sempre leal e convicto na defesa das suas posições.
Pertencíamos à mesma geração. Conheci o Miguel Macedo, em Coimbra, ele vindo de Braga e eu do Porto, quando ambos frequentávamos a Faculdade de Direito na já longínqua década de 80 do século passado. Éramos uma geração que tinha vivido o 25 de Abril na adolescência e se preparava para participar numa outra fase da construção da democracia.
Já então trazia elegância para o debate político, tendo sido candidato à Associação Académica de Coimbra contra o Luís Parreirão. Eram tempos onde se procurava conjugar um Portugal melhor com uma ideia de democracia europeia.
Pouco tempo depois, reencontrávamo-nos na JSD, Juventude Social Democrata, integrando a sua Comissão Política Nacional na liderança de Carlos Coelho, ele como vice-presidente e eu como secretário-geral, alimentando as mesmas ideias e procurando viver de uma forma intensa o Portugal que tinha acabado de entrar na Europa dos 12.
Estivemos juntos no Parlamento, partilhamos a mesma casa em Lisboa e quando tive um grave acidente de carro acabou por me substituir numa viagem à Noruega a convite da NATO.
Ajudamos a construir o PPJP - projeto político para a juventude portuguesa - que muito o inspirou quando foi secretário de Estado da Juventude.
Essa amizade aí forjada foi continuando ao longo dos tempos, nos bons e maus momentos. Dos bons momentos quero destacar as vitórias do nosso F. C. Porto que com tanta emoção abraçava. Dos maus momentos fica a tristeza do processo que, felizmente no final, o iria absolver do chamado visa gold.
Constatei a amargura que o abalou pela injustiça que para ele representou. Sei, porque fui testemunha, de que modo esse processo o marcou. Foi uma vítima da forma como, em Portugal, se faz jornalismo e justiça.
Falamos duas semanas antes deste infortúnio, aprazando com outro amigo comum, o Nelson Fernandes, um almoço para breve.
Do Miguel Macedo ficará, para sempre, o seu sorriso oportuno e a palavra de conforto de quem acreditava que o outro dia iria ser melhor. Ficará, também, a maneira de fazer política como um príncipe da Renascença a que acrescentaria a bondade da sua atuação.
No regresso ao comentário político, não evidenciava azedume ou vontade de escarnecer quem lhe fez mal.
Como escreveu o seu conterrâneo Sá de Miranda, era um “homem de um só parecer. De um só rosto e de uma fé. De antes quebrar que volver. Outra coisa pode ser. Mas da Corte não é”.
Na hora da sua partida que se aprenda com o seu exemplo.