Em poucos meses, um vírus com origem num local remoto da China coloca em sobressalto a economia mundial e o seu funcionamento, com ameaças rápidas de potencial colapso em cadeias de fornecimento de bens.
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Com a implementação da Organização Mundial do Comércio, os fluxos globais de bens e serviços cresceram sempre a taxas anuais médias superiores ao produto industrial, aproximando-se dos valores limite de um mercado único global. Estima-se que nos últimos 30 anos a troca de bens e serviços terá passado de menos de 20% para valores bem acima dos 80%, o que colocou todos os países em patamares de interdependência nunca antes experimentados. Só o conjunto da Ásia, Europa e América do Norte representam cerca de 88% do comércio de bens no âmbito da OMC nos últimos 10 anos.
Das muitas razões apontadas para esta necessidade, ou inevitabilidade, estão os métodos de produção dirigidos à globalização e ao consumidor, que terminaram com a distinção entre as estratégias de comércio e de investimentos, antes considerados como opções alternativas de penetração em mercados externos. Na era da globalização as empresas tratam o comércio e o investimento como atividades complementares, tornando cada vez mais difícil impor regras na troca de bens que envolvam origens nacionais distintas. Numa economia em rede, o efeito gravítico sobre as economias mais frágeis tornou-se evidente, obrigando muitos países a transformações profundas para manter níveis mínimos de competitividade. A importância do custo de produção tornou-se decisiva na decisão dos investimentos, provocando inúmeros processos de deslocalização, com pressões fortíssimas nos rendimentos do trabalho dos países em desenvolvimento.
As dificuldades que a simples circulação global de um vírus coloca devem levar-nos a refletir, ou mesmo a questionar, sobe a inevitabilidade do modelo de desenvolvimento que temos assumido como o único possível. Afinal, parece que os desafios de um maior equilíbrio territorial da produção de riqueza podem não ser apenas de um país, antes sim do Mundo como um todo.
*Professor catedrático, vice-reitor da UTAD