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O mais recente relatório da Comissão de Acompanhamento ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) comprova, no essencial, que tudo aquilo que podia correr mal está a correr mal. Portugal vai, muito provavelmente, deixar escorrer pelo ralo da inércia muitos milhões de euros a fundo perdido. A um ano e meio do fim do prazo, o PRR tem dois terços dos investimentos atrasados. E a percentagem dos projetos em estado crítico praticamente triplicou no último ano. Ou seja, a urgência da aplicação dos fundos está a produzir resultados contrários. Em vez de acelerarmos, estamos a abrandar. Incapacidade que é mais evidente em áreas-chave como a habitação e saúde.
Olhando com atenção, percebemos que o maior obstáculo à dinamização de um programa de apoios que, muito provavelmente, não se repetirá na próxima década, tem sido a demora na tomada das decisões. O que traduz a ineficácia estrutural do Estado, que continua a mover-se como um paquiderme enfermo. A malfadada reforma do “monstro” é um clássico da política portuguesa que Luís Montenegro agora recuperou (e ainda bem, note-se), declarando guerra à burocracia e apostando na digitalização da Administração Pública, como se essa fosse a panaceia para todos os males. A fasquia está alta. Aguardemos.
Porém, os sinais dados pela gestão da bazuca europeia não são os melhores. Sobretudo se pensarmos que presidente da República, vários governos e sucessivas oposições sempre estiveram alinhados com a necessidade de aproveitar esta oportunidade de ouro. Quando todos estamos de acordo e mesmo assim as coisas não avançam, isso diz o quê de nós?