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Com o desaparecimento de Jorge Nuno Pinto da Costa, desaparece a mais popular e incisiva voz contra o centralismo. “Somos e queremos continuar a ser uma espinha cravada na garganta da capital”.
O “Presidente dos Presidentes” tem esse mérito no seu currículo cívico, fundado numa profunda consciência da injustiça que todos os dias é praticada por um centralismo que nos amarra e tolhe. Ele foi um verdadeiro defensor da regionalização, no seu estilo frontal, muitas vezes truculento e provocador.
Pinto da Costa era um conhecedor da nossa história e da realidade do país, das malhas do poder e do seu funcionamento. Nesse contexto, foi testemunha e ator, inconformado e combativo, e muitas vezes também incompreendido, desse sistema pouco democrático e pouco justo no que à coesão territorial e à liberdade de autorrealização diz respeito. Por tudo isto, o legado da sua personalidade complexa e multifacetada não é estritamente desportivo. Se é indiscutível que transforma o FC Porto numa instituição mundial, numa marca desportiva respeitada internacionalmente, é também verdade que essa conquista foi palco para uma consciência e uma voz políticas. O FC Porto transformou-se na expressão simbólica e popular de um contrapoder. Um contrapoder contra o centralismo, que dizia isto bem claro: na capital, terão de contar connosco, com o Norte! Que é como quem diz: fazemos parte de Portugal, fazemos parte do melhor que o país pode ter.
O regionalismo de Pinto da Costa não é nunca contra o país, nem contra a sua unidade, mas contra o centralismo que de modo invisível subtrai aos seus territórios liberdade, competência e capacidade de autodeterminação e desenvolvimento.
É curioso notar que Pinto da Costa é um institucionalista. Basta ver o modo como se relacionou com muitos presidentes da República e governantes. Respeitava as instituições. O que ele não respeitava, e não podia aceitar, nem calar, é o sistema que nos abafa e aspira riqueza e poder de decisão.
O regionalismo de Pinto da Costa é expressão do verdadeiro regionalismo nortenho. Não deseja, nem luta por uma dissolução da unidade nacional. Pelo contrário, vê que as regiões são a única via para reforçar essa mesma unidade. Não há unidade na assimetria, não há unidade na clivagem, não há unidade na injustiça.
Devemos acalentar a esperança de que o legado político e simbólico de Pinto da Costa não se perca. O país e o Norte precisam!
Obrigado, Presidente.