Estamos prestes a completar um ano com a pandemia em Portugal e a situação não dá sinais de estar perto do fim. Estamos cansados, fartos e impacientes.
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Mas existem também outro tipo de sentimentos que têm ficado muito à vista nestas últimas semanas. Por um lado, a solidariedade, pessoas que estão em casa e ao verem na televisão as filas de ambulâncias se organizam para com os seus vizinhos entregarem sopas a bombeiros.
Por outro lado, do Norte ao Sul do país, um instinto de sobrevivência e um tão humano egoísmo tem vindo a nu, com tantos e tantos que inadvertidamente têm encaminhado vacinas para si e para os seus mais próximos. Um abuso de poder, incompreensível, e em que alguns membros da classe política têm infelizmente estado na linha da frente dos maus exemplos. Não o nego, pelo contrário, condeno.
Mas também os julgamentos populares sumários têm sido característica deste tempo. Com demissões e condenações morais, por quem, aparentemente, mais não fez que ao ter sobras de vacinas, cumprir o protocolo e imunizar quem nas suas imediações estava em condições de a receber. Não falo de alguém que chamou os seus, que vacinou a mulher, os filhos ou os familiares.
O debate está hoje assim. Feroz. Não se pensa, não se pondera. Ataca-se.
Não considero a melhor solução, evidentemente. Os donos, funcionários e clientes de uma pastelaria, próxima do INEM do Porto, não são prioritários e a sua vacinação na primeira fase de prioridade não é justa. Mas, a verdade é que, obrigado a decidir entre desperdiçar ou aplicar aleatoriamente, foi tomada a decisão, levada a cabo a vacinação e incompreensivelmente premiado com a demissão.
Temos de rever e desenhar bem este processo. As vacinas que sobrarem vão para o lixo. Não pode ser. Não é justo para ninguém.
*Engenheiro e autarca do PSD