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A força dos acontecimentos torna incontornável dedicar esta opinião quinzenal aos incêndios que têm assolado o país, com especial contundência na Madeira e, agora, nas regiões Centro e Norte.
Nunca serão demais palavras de solidariedade para com os afetados, em vidas, ferimentos e bens materiais, como tem de ser convicto o nosso reconhecimento aos que estão a emprestar a sua energia, conhecimento e liderança a este combate que parece não dar tréguas. Curvo-me perante a memória dos que faleceram nesta guerra contra as tempestades de fogo.
Populações, empresários e autarcas experimentam momentos de angústia, em muitos casos de aflição, impotentes face à violência e multiplicidade de incêndios, confrontados com falta meios, que nunca serão suficientes, ou com a resposta limitada de diferentes estruturas de combate, cujas capacidades serão sempre escassas em contextos como os que estamos a viver.
No entanto, importa ver sinais de esperança na evolução pela qual o país passou desde a tragédia de 2017. Houve mais planeamento, foram lançados avisos com maior antecipação, a rapidez de intervenção é maior e a mobilização de meios europeus foi célere no pedido e na resposta. É um domínio onde nunca estará tudo bem, mas onde há sinais de evolução no caminho certo, num trabalho de todos, operacionais, autarquias e do Governo (o atual e o anterior).
Ainda estamos no meio da batalha e o seu desfecho não é fácil de prever, sendo que o caminho passará sempre por um maior esforço de planeamento e prevenção, uma maior eficiência no combate e uma ação mais estratégica e abrangente sobre o “fator humano”.
Sendo bem conhecidas as alterações climáticas e a crescente existência de condições especialmente perigosas para a progressão de incêndios, amplificadas pela acumulação de material combustível nas florestas, importa não negligenciar a responsabilidade humana nestes acontecimentos, o que é confirmado pela evidência de muitos fogos deflagrarem de madrugada e numa sucessão de pontos. Seja por demência e perversão, negligência ou ação criminosa, o âmbito de atuação alarga-se, envolvendo necessariamente as autoridades de fiscalização, policiais e judiciais, os organismos científicos, educativos e sociais.
Também é tempo de os média refletirem sobre os efeitos da espetacularização dos fogos, sem que isso implique deixar de informar. Existe base científica para provar que os pirómanos são induzidos pelo fascínio de imagens exuberantes, facto que tem de ser interpretado. O tema merece reflexão e ação.
Tal como noutros desafios do passado, este flagelo poderá ser vencido. Mas isso continuará a exigir (de todos, não de uns poucos) reflexão e ação.