O concelho acordou mais tranquilo esta quinta-feira. Depois de dias de sobressalto, o céu sobre Arouca clareou e o cheiro a fumo dissipou-se.
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O fogo, que lavrou com fúria desde a passada segunda-feira, deixou para atrás um rasto de destruição - mais de cinco mil hectares consumidos pelas chamas, casas danificadas, falta de água, energia e comunicações. Até os emblemáticos passadiços do Paiva não escaparam, com uma pequena parte do percurso atingida.
Mas são as histórias das pessoas que mais marcam e preocupam. Em Vila Viçosa, freguesia de Espiunca, Maria Alice Soares, ou "Tia Alice", como todos a conhecem, viu o esforço de uma vida quase reduzido a escombros. A sua casa, fruto de muitos anos de trabalho duro - nas antigas minas de volfrâmio de Regoufe e mais tarde na Bélgica, na apanha da fruta - ficou inabitável. As chamas não a devoraram a casa por completo, mas pouco faltou.
Foto: Carlos Costa/AFP
Aos 81 anos, e recentemente operada a uma anca, Tia Alice, a mulher, "simples e de trato fácil" como a descreve um amigo, é apoiada durante o dia pelo Centro de Dia do Lar de Canelas e, à noite, acolhida por uma filha. Vizinhos, amigos e conhecidos uniram-se, determinados a que o seu caso não caia no esquecimento e revelam publicamente o sucedido.
"Não há condições para a senhora viver lá. Os serviços da Câmara e a Junta estão a avaliar e ver o que podemos fazer", afirmou, ao JN, Hermenegildo Moreira, presidente da União de Freguesias de Canelas e Espiunca.
O autarca garante que está atento às necessidades da população e confirma que "foram mais casas atingidas", embora sem a mesma gravidade da de Maria Alice.
Outra das grandes preocupações da população é a falta de água. "Há muita gente que tinha abastecimento próprio, mas o fogo queimou os canos", explicou o presidente. Estão a ser identificadas as habitações sem acesso à água potável, enquanto técnicos da Câmara fazem o levantamento dos casos mais urgentes.
A eletricidade e as comunicações estão também a ser restabelecidas, depois de várias localidades - como Canelas, Espiunca, Vila Viçosa, Serabigões e Vila Cova - terem ficado isoladas, quase sem contacto com o exterior. Viveram-se momentos verdadeiramente aflitivos. "O fogo andou no meio das casas e dos campos. Estava tudo seco e ardeu", resume Hermenegildo Moreira.
Os bombeiros mantêm um forte dispositivo no terreno e, embora os reacendimentos continuem, têm sido prontamente controlados. A Câmara Municipal de Arouca promete, em breve, uma primeira estimativa dos prejuízos, que se adivinham avultados. A extensão dos danos nos passadiços do Paiva também por apurar.