Veículos circulam e são abandonados no passeio. Moradores dizem ser "abalroados" por condutores a alta velocidade. Câmara do Porto e empresa garantem que há regras a cumprir.
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Seja para circular ou estacionar as trotinetas elétricas partilhadas no Porto, muitos utilizadores dos equipamentos preferem os passeios à estrada, apesar de lá não ser permitido circular nem parar os veículos. Os moradores da Baixa da cidade dizem que os passeios se transformaram numa espécie de "jogo de obstáculos" e queixam-se, de igual modo, de serem "abalroados" por quem abusa na velocidade dos equipamentos. Os veículos, indevidamente parados nos passeios bloqueiam muitas vezes a passagem e já provocaram acidentes.
A má utilização soma-se à falta de civismo e José Silva, de 76 anos, já foi vítima desse comportamento. Ao tentar atravessar a rua entre a Praça da Trindade e a Rua do Dr. Ricardo Jorge, perto da Câmara do Porto, e enquanto observava os carros, que "passam naquela curva à tangente", José tropeçou numa trotineta parada no passeio: "Fiquei todo amassado e com o tornozelo e canelas feitas num oito. Isto é um inferno. Tem de haver regras".
A operadora Bird e a Autarquia garantem que há. A empresa diz que, caso os utilizadores não estejam num ponto de partilha, a aplicação não permite concluir a viagem e os novos equipamentos (cinzentos e azuis) oferecem "melhorias significativas na tecnologia GPS, tornando mais difícil terminar uma viagem num local indevido". Além disso, diz estar "a desenvolver soluções que melhoram a precisão de deteção da localização da trotineta".
Por sua vez, a Câmara do Porto corrobora este cenário: "85% das viagens têm início num dos 215 pontos de partilha espalhados pela cidade". A Autarquia diz que a fiscalização está a cargo dos serviços municipais de Mobilidade, através de uma plataforma própria e que, perante uma irregularidade, "é enviada uma notificação, por email, aos operadores e respetivas equipas de logística", que identifica o veículo, a localização e o tempo parado fora dos pontos de partilha. Feito esse contacto, a empresa tem de remover a trotineta "no menor tempo possível".
Mas Patrícia Figueiredo, de 40 anos, trabalhadora na Rua do Almada, diz já ter observado a permanência de várias trotinetas estacionadas indevidamente no mesmo local pelo menos durante dois dias, tendo avisado o Município e a própria empresa.
"uma pista de corridas"
A Rua do Almada em particular serve ainda "de rampa" para os condutores de trotinetas, alerta Patrícia. A descida contribui para o excesso de velocidade dos veículos que, por vezes, abalroam moradores e lojistas à porta dos espaços.
"Isto parece uma pista de corridas. Todos os dias, temos de nos desviar por causa das trotinetas nos passeios. Uma vez, ao sair da porta, comi com uma. O rapaz caiu em cima do capô de um carro que estava aqui estacionado", relata, por sua vez, José Silva.
"Tem de haver um respeito mútuo. Às vezes, estão mesmo a bloquear o atravessamento. É ridículo. Parece um percurso de obstáculos. Para um invisual, é uma armadilha", acrescenta Rui Chambel, de 42 anos.
Uso
58 mil viagens foram feitas de trotineta no Porto. De acordo com a Câmara, a duração média dos percursos é de 18 minutos e a distância é de 2,7 quilómetros.
Mais dados
Multas e remoção
A PSP pode multar trotinetas e os veículos podem ser removidos se estiverem preenchidos os pressupostos do artigo 164.º do Código da Estrada.
Outras cidades
Em Braga, até ao início do mês, circulavam 208 trotinetas na cidade, 152 da Bird e 56 da Bolt EU. Nessa altura, tiveram 40 074 utentes. Em Coimbra, as duas empresas realizam uma média mensal de 22 252 de viagens com um total de 66 640 utentes.