Cantor francês que matou namorada à pancada investigado pela morte da ex-mulher
Um famoso cantor francês que espancou a namorada até à morte vai enfrentar uma nova investigação judicial pelo suicídio da ex-mulher após um documentário da Netflix sobre o seu comportamento violento, disseram os procuradores esta quinta-feira.
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Bertrand Cantat, antigo vocalista da popular banda de rock dos anos 80 Noir Desir ("Desejo Negro"), foi o tema de um documentário da Netflix, amplamente visto, que foi transmitido em março deste ano. Foi condenado a prisão pelo homicídio da atriz Marie Trintignant num quarto de hotel em Vilnius, em 2003, mas trabalhou e fez espetáculos depois de ser libertado, apesar dos protestos e pedidos de boicote.
Os procuradores de Bordéus, cidade natal de Cantat, informaram, em comunicado na quinta-feira, que estavam a investigar "possíveis atos de violência intencional" contra a sua ex-mulher Krisztina Rady, encontrada enforcada em casa em 2010.
Os procuradores vão analisar "várias alegações e depoimentos não incluídos" em quatro investigações anteriores sobre as circunstâncias da morte de Rady, todas encerradas sem acusações, segundo o comunicado.
Uma "discussão violenta"
Em "O Caso Cantat", na Netflix, uma enfermeira alega que Rady visitou um hospital em Bordéus "após uma discussão com o companheiro, uma discussão violenta" que resultou no "descolamento do couro cabeludo e hematomas". A enfermeira disse ainda que Cantat consultou o seu processo hospitalar por "curiosidade" nos arquivos de um hospital da cidade onde trabalhou temporariamente.
Rady, uma ex-intérprete de origem húngara, também deixou uma mensagem aterradora no atendedor de chamadas dos pais antes da sua morte. Nele, referia-se à violência de Cantat, segundo o documentário e um livro de 2013 escrito por dois jornalistas franceses.
O advogado de Bertrand Cantat, Antonin Levy, afirmou não ter conhecimento da reabertura da investigação do caso.
Concertos pós-libertação
Depois de ter sido libertado da prisão em 2007, o cantor de Bordéus trabalhou num novo álbum e fez uma digressão com a banda Detroit.
O caso gerou um debate aceso, com muitos fãs dispostos a perdoar o seu registo criminal e a vê-lo como alguém que tinha cumprido a sua pena atrás das grades, quatro anos de uma pena de oito anos. Já os ativistas dos direitos das mulheres viam-no como um símbolo da misoginia violenta, ainda mais após a morte de Rady, em 2010.
O lançamento do seu primeiro álbum a solo, "Amor Fati", em 2017, gerou mais controvérsia no movimento #MeToo, que fez com que mulheres de todo o Mundo se manifestassem com mais veemência sobre a violência doméstica e o abuso sexual, levando ao cancelamento de vários concertos de Cantat e a protestos de organizações feministas.