O discurso da conspiração política que o primeiro-ministro ontem utilizou para justificar o aparecimento do caso Freeport "funciona mal em Portugal", afirma António Costa Pinto. Isto porque "nunca existiram grandes processos e escândalos de conspiração política no nosso país, o que não valoriza muito esse tipo de explicação".
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Já a nomeação da TVI como conspiradora "aproxima Portugal de outras democracias onde existem conflitos entre o Governo e as televisões, como sucede na América do Sul ou Itália, e José Sócrates assume, pela primeira vez, uma clara entrada de um dos órgãos de comunicação social no combate político". Ou seja, "o caso Freeport continua a ter alguma impacto".
Costa Pinto salienta, ainda, que "o primeiro-ministro passou os primeiros minutos da entrevista a negar as críticas do presidente da República e, sobretudo, a negar a existência de um conflito. Ao mesmo tempo, deixou a sugestão - e bem - de o presidente intervir menos face ao clima eleitoral que se avizinha". O professor esclarece que ambos os actores políticos sabem que um conflito institucional nesta conjuntura será mais desfavorável para o partido do Governo.
Por último, Costa Pinto revelou alguma surpresa por os entrevistadores terem ficado tão focados nas questões do conflito com o presidente e no caso Freeport, tendo em vista que se avizinha uma conjuntura eleitoral em que, antecipa, o tradicional eleitoralismo, em virtude da crise, não será um elemento tão preponderante e no qual o primeiro-ministro e o PS vão, certamente, centrar-se nas medidas anticrise.