O secretário-geral do Partido Comunista negou hoje haver qualquer tipo de "orquestração" entre os partidos da oposição contra o Governo de José Sócrates e aconselhou o Partido Socialista a dar "contribuições positivas" para encontrar "convergências legislativas".
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"Não se trata de nenhuma orquestração, de nenhuma coisa organizada, antes pelo contrario. São expressões de compromisso eleitoral que procuramos colocar na Assembleia da República", garantiu à Lusa Jerónimo de Sousa, referindo-se à votação de sexta-feira na Assembleia da República.
A votação serviu para aprovar 11 projectos de lei ou resoluções do PSD, CDS-PP, PCP e BE, com os votos contra do PS, o que levou o ministro dos Assuntos Parlamentares a apontar a falta de "condições de governabilidade" e o ministro das Finanças a alertar para a dificuldade de controlo do défice. Já o primeiro-ministro apontou a "pouca responsabilidade" da Assembleia da República.
"É o Partido Socialista a dramatizar e é próprio de quem não sabe conviver com a perda da maioria absoluta", considerou Jerónimo de Sousa, que falava à Lusa no final da sua intervenção no plenário de Quadros da Organização Regional de Setúbal do PCP, que decorreu no Instituto Politécnico de Setúbal.
Para o líder comunista, a Assembleia da República é "sede legislativa" e isso devia pressupor "sempre diálogo e discussão".
"Não se entende essa posição crispada, antes se esperava a contribuição positiva em relação a essas propostas que são aparentemente semelhantes, mas com conteúdos diversos", defendeu o secretário-geral do PCP.
Antes, durante o seu discurso, Jerónimo de Sousa defendeu que quem tem de dar explicações é o Governo, principalmente quando o assunto é BPN, apontando o dedo ao Executivo por ter nacionalizado "com aspas" e agora querer "reprivatizar sem aspas", sem ainda se saber quanto gastou.
"Se está [Governo] preocupado com as receitas, vá buscar o dinheiro onde ele está, ao IRC, aos lucros fabulosos da banca e dos grupos económicos e financeiros, na eliminação de privilégios e beneficias dos poderosos", defendeu.
Jerónimo de Sousa lembrou que o Tratado de Lisboa entra em vigor dentro de dias, mas garantiu que isso não será motivo para os comunistas baixarem os braços e deixarem de lutar.
"Isso não significa o fim da luta que há muito travamos e que vamos continuar a travar em defesa de uma Europa de cooperação entre Estados soberanos, iguais em direitos, de progresso e de paz", sublinhou.
O líder comunista revelou ainda que a partir de Janeiro vai levar a cabo uma campanha a nível nacional que vai durar três meses e vai percorrer o país de norte a sul com o objectivo de contactar as populações e "conhecer a realidade" do desemprego e, com isso, apresentar propostas de combate.