<p>O envolvimento de Rui Pedro Soares na compra da TVI pela PT, que viria a ser inviabilizada, não ficou ontem cabalmente esclarecido na audição parlamentar da Comissão de Ética. O ex-administrador da empresa enredou-se por diversas vezes em contradições.</p>
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No início da longa audição de quase três horas, afirmou peremptoriamente nunca ter representado a PT em reuniões com José Sócrates ou com Mário Lino, então ministro das Obras Públicas, que tutelava a empresa. Mais tarde, porém, disse "não ter presente" qualquer encontro com Lino na semana de Junho de 2009 em que o negócio PT/TVI foi tornado público. Fez mesmo questão de acrescentar que, para tirar dúvidas, consultou a sua agenda.
Outra das contradições em que caiu diz respeito à sua presença na administração da PT-Compras. Depois de garantir nunca ter tido responsabilidades naquela empresa do universo PT, acabou por reconhecer ter sido, em 2006, administrador com o pelouro do Marketing, quando confrontado por João Oliveira com o relatório de governança da PT-Compras relativo a 2006 que lhe atribuía essa condição. Nesse momento, afirmou que quem tratava da publicidade - em órgãos de Comunicação Social - era Carlos Barbosa. O deputado do PCP reiterou que o nome de Barbosa nem sequer consta do elenco de administradores que consta do documento.
O homem que renunciou há uma semana ao cargo, na sequência da revelação de escutas telefónicas realizadas no âmbito do caso "Face Oculta", tomou uma atitude semelhante à de Armando Vara e Paulo Penedos, também arguidos no processo, quando compareceram na comissão parlamentar. Ao limitar as respostas a questões que não pusessem em causa os seus deveres de confidencialidade e de sigilo profissional, reduziu a possibilidade de tornar mais clara a sua participação no processo de entrada da PT na estrutura accionista da Media Capital, proprietária da TVI.
Não representava o Estado
Rui Pedro Soares instou, por diversas vezes, os deputados a dirigirem as questões que lhe colocavam a Henrique Granadeiro ou Zeinal Bava, seus superiores hierárquicos na PT, que em breve serão também ouvidos pela comissão. "A minha actuação foi feita no cumprimento das minhas funções, enquanto administrador da PT-SGPS", disse, garantindo nunca ter extravasado competências.
Alegando que não representava o Estado na PT - diria depois que a relação com esse accionista cabia a Granadeiro - negou qualquer influência do chefe do Governo no negócio PT/TVI: "Não falei com o primeiro-ministro, nem recebi dele nenhuma instrução ou ordem sobre a compra da TVI". Sem explicitar quem tomou formalmente a decisão de abortar o negócio, sustentou mesmo que "por si só", a golden share detida pelo Estado "não o poderia vetar".
"Acreditar que um vogal da Comissão Executiva e o assessor jurídico [Paulo Penedos], numas quantas chamadas telefónicas, iam alterar o panorama da Comunicação Social é um absurdo", protestou, referindo-se, indirectamente, aos extractos de escutas publicados pelo semanário Sol.
Na primeira audição de ontem, esteve presente Maia Abreu, director de informação da TVI que se demitiu na sequência da suspensão do "Jornal de 6ª". O jornalista admitiu não poder provar que o Governo teve influência na decisão da administração, tomada em Setembro de 2009. "Percebi que tinha de acabar, porque era incómodo. Associei às declarações do primeiro-ministro", disse, aludindo às críticas que dirigidas ao programa por José Sócrates, num congresso do PS.