A presidente brasileira, Dilma Rousseff, afirmou que está a ser vítima de um "golpe" e que irá apurar os factos relativos à divulgação de uma conversa que teve com Lula da Silva, falando em "ilegalidades".
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Nos áudios, divulgados pelo canal de televisão Globo News, Dilma Rousseff disse ao seu antecessor que mandou alguém entregar o termo de posse do ex-presidente como ministro, para o caso de ser necessário.
As conversas foram gravadas pela Polícia Federal com autorização judicial antes de a presidente anunciar publicamente que o ex-chefe de Estado seria ministro chefe da Casa Civil.
Ao entrar para o Governo, Lula da Silva, inquirido no âmbito da Operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras, passa a ter foro privilegiado, podendo apenas ser questionado pelo Supremo Tribunal Federal.
A Polícia Federal diz que as escutas demonstram a tentativa da presidente de interferir nas investigações.
A presidente brasileira considerou que há uma tentativa de "convulsionar a sociedade brasileira", e de deixar o país em "permanente sobressalto" com "inverdades", violações de princípios e garantias constitucionais, o que "abre precedentes gravíssimos", frisando: "os golpes começam assim".
A chefe de Estado falava durante a tomada de posse dos novos ministros da Casa Civil, Lula da Silva, da Justiça, Eugénio Aragão, da Secretaria de Aviação Civil, Mauro Lopes, e ainda do chefe de Gabinete Pessoal da Presidência da República, Jaques Wagner.
Segundo a presidente, houve uma "interpretação desvirtuada" da gravação, mudaram tempos verbais e mudaram "a gente" para "ele".
"Ocultaram que o que nós fomos buscar ao aeroporto era esta assinatura", referindo-se ao nome de Lula da Silva, e explicando que sem a sua própria assinatura não haveria posse, algo que só aconteceria hoje no Palácio do Planalto. Isto porque, esclareceu, não era certo que Lula da Silva iria participar na tomada de posse.
A Chefe de Estado sublinhou que a "interpretação desvirtuada, processos equívocos e investigações baseadas em grampos [escutas telefónicas] ilegais não favorecem a democracia neste país".
Durante o seu discurso, alguns dos presentes gritavam: "Abaixo a rede Globo".
"Isso não me fará recuar diante da exigência da mais absoluta apuração dos factos acontecidos ontem", garantiu a presidente.
Apesar de elogiar o combate à corrupção que tem sido realizado, Dilma Rousseff entende que é preciso "reafirmar a centralidade dos direitos individuais", como a presunção de inocência, e "todas as leis vigentes".
"Não há justiça quando delações [revelação de crimes alheios com o fim de tirar proveito dessa revelação] são tornadas públicas de forma seletiva" e quando depoimentos são transformados em factos espetaculares", considerou.
A presidente questionou ainda: "Se se ferem as prerrogativas à Presidência da República, o que farão com as prerrogativas dos cidadãos?"
Também numa nota divulgada quarta-feira à noite, a Presidência fez saber que "todas as medidas judiciais e administrativas cabíveis serão adotadas para a reparação da flagrante violação da lei e da Constituição da República, cometida pelo juiz autor do vazamento".
A divulgação foi feita pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, que investiga casos de corrupção na petrolífera Petrobras e que envolve também Luiz Inacio Lula da Silva.