A luta pelo poder, mais propriamente pelo cadeirão da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), ameaça ficar ao rubro, dentro de pouco tempo, numa guerra surda em que até o Governo tem sido uma testemunha privilegiada embora, para já, algo silenciosa...<br />
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A questão tem como epicentro a circunstância de o Governo ter implementado um novo Regime Jurídico das Federações Desportivas (RJFD), que contraria os Estatutos vigentes na FPF e, fundamentalmente, atinge o coração do poder chamado Assembleia Geral, cuja nova constituição, a verificar-se, altera a actual relação de forças.
Assim, enquanto no modelo em uso, as Associações dominam a AG, com 55% dos votos, concretizando, assim, uma maioria absoluta inquestionável, no novo RJFD, já em vigor na quase totalidade das federações, já que a de vela é a única excepção, o poder passa para as ligas, de Futebol Profissional e Não Profissional (somam, juntas, tantos votos como as associações, 35%), bem como para os órgãos representativos de jogadores, treinadores e árbitros. Em conjunto, estas entidades, atingem os 65% dos votos, sobrando apenas 35% para as associações.
Ora, com a corrida para as eleições em andamento, nos bastidores, uma pergunta ganha relevância. Será que as associações vão chutar contra a própria baliza, cedendo o poder, numa bandeja de ouro, a outros? A resposta tem sido um irredutível “não”.
Com o regime actual, o futuro presidente sairá, como até aqui, do ventre associativo, caso contrário, o centro da decisão passará para as outras entidades. Por exemplo, na teoria, uma eventual candidatura de Vítor Baía, figura de incontornável prestígio, facilmente poderia receber o apoio das ligas, dos treinadores e, obviamente, dos jogadores, Ou seja: reuniria 57,5% dos votos, garantindo a eleição de um modo folgado. Na versão eleitoral actual não ultrapassaria 36%.
As eleições, porém, deverão realizar-se com o modelo em vigor, talvez em Janeiro. É que o arrastar das decisões sobre as providências cautelares em curso, os prazos para apresentação das contas, obrigatoriamente antes das eleições (precisam, no mínimo de 45 dias, para serem previamente apreciadas), fazem prever que as eleições se realizem com a legislação actual. Isto porque uma qualquer imposição unilateral do Governo teria a oposição da FIFA, que não admite ingerências externas ao futebol.