A lusofonia é celebrada no novo restaurante Renata, no hotel vínico Forte de Gaia

Até ao início de agosto, o restaurante do hotel Forte de Gaia - com entrada independente pela Rua da Carvalhosa - dava pelo nome de Dona Maria, em "homenagem às nossas Donas Marias - das habilidosas cozinheiras domésticas às rainhas e princesas da nossa História", segundo os responsáveis do hotel. Nesse período, entrou em cena a personagem de Renata, a "neta rebelde" de Dona Maria, "filha de Gaia e do Douro", viajada e irreverente. "Gosta de quebrar rotinas, misturar sabores e dançar com a tradição."

É nesta narrativa situada entre o passado e o presente que assenta a identidade do Renata, estreada pouco depois de o Forte de Gaia integrar a Autograph Collection, marca do grupo Marriott, o único a Norte e o terceiro no país. Se antes o menu procurava resgatar os pratos clássicos portugueses, agora propõe a sua releitura à lupa da lusofonia, "numa viagem de sabores pelo mundo lusófono que é, ao mesmo tempo, familiar e inesperada". A ideia foi trabalhada por Estanislao Carenzo, consultor gastronómico da Azora, proprietária do hotel.

Servido o couvert - composto por pão de massa-mãe de trigo integral, flor de sal de Aveiro aromatizada com vinho tinto e azeite virgem extra -, da cozinha do chef João Vieira chegam, primeiro, as entradas. Servem de exemplo as esferas de ervilhas em pani puri (prato indiano) com tomate coração de boi, tamarindo e yondu; e as tempuras de lascas de bacalhau da Islândia (pataniscas) com legumes e emulsão de cana-de-açúcar. Ambas são bons pontos de partida para a harmonização vínica, a cargo do sommelier do hotel Luís Teixeira.

À mesa, mantendo a vista sobre um Porto cenicamente iluminado, prova-se um polvo à lagareiro (cozido previamente no forno com especiarias) acompanhado por batata "olho de perdiz" e molho de pimentos assados, azeite, nozes e salsa; e ainda, havendo apetite, uma vazia com 35 dias de maturação coadjuvada por mandioca no forno laminada com natas e queijo da ilha, esparregado de nabiças, jus de vinho tinto e legumes. Para rematar, o menu tem queijos nacionais e sobremesas ecléticas. Durante a semana há almoços executivos.

Entre as quase 300 referências de vinhos do hotel haverá sempre a que combina melhor com este ou aquele prato, tarefa que Luís Teixeira executa com mestria. A ligação do hotel ao vinho em geral e ao do Porto em particular é, de resto, umbilical: não só no nome, que remete para o processo de fortificação do vinho do Porto, mas também na decoração da designer funchalense Nini Andrade Silva, que no restaurante optou por um teto acobreado com folhas de outono salientes, adornos em vime e um balcão curvo que serve de bar e de buffet.

No recém-batizado bar Roxo Wine & Spirits, no piso térreo do hotel, a decoração das colunas lembra os pés das videiras, a cortiça reveste as paredes e uma imponente escadaria exibe as tábuas de madeira de antigos balseiros da Real Companhia Velha, a quem o terreno pertencia. O menu aposta nos cocktails com vinho do Porto, alguns deles clássicos e envelhecidos em barricas de carvalho francês com 30 litros, para ganharem notas de madeira, canela e baunilha. A inspiração na natureza reflete-se também nos 119 quartos e suítes, com vista sobre o Porto.

A imagética do vinho estende-se ao desenho de uma uva no fundo da piscina exterior, cujo bar funciona de maio ao final de setembro, apoiada por um terraço recentemente estreado sobre o telhado do ginásio. Dentro de portas, é no bar que decorre, diariamente, The Mark. Exclusivo dos hotéis Autograph Collection, o sommelier abre uma garrafa de vinho do Porto vintage com recurso a uma tenaz sobreaquecida, método inventado pela corte inglesa, no século XVIII, para evitar retirar a rolha que poderia desfazer-se. E brinda-se.

Forte de Gaia - Autograph Collection
Rua de Serpa Pinto, 60, Vila Nova de Gaia
Tel.: 220 157 540
Web: marriott.com
Preço médio: 56 euros (sem vinhos); menu de almoço: 25 euros/ 29 euros (2/3 pratos)
Quarto duplo desde 300 euros/noite, com pequeno-almoço