O primeiro-ministro António Costa afirmou, este sábado, que tem de ser feita justiça aos emigrantes lesados pelo BES.
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Costa prometeu velar pela criação dos mecanismos de arbitragem que satisfaçam os direitos de quem perdeu as poupanças de uma vida.
Depois da manifestação à porta da Embaixada de Portugal e de terem tido oportunidade de falarem com o presidente da República e o primeiro-ministro na Mairie de Paris após a cerimónia do 10 de junho, dezenas de emigrantes lesados pelo BES esperaram, esta manhã de sábado, a comitiva presidencial em Champigny, nos arredores de Paris, para reclamar justiça, empunhando cartazes entre a multidão que acorreu ao segundo momento de condecorações.
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O primeiro-ministro e o presidente da República não fugiram ao tema e mostraram abertura para procurar auxiliar os emigrantes portugueses lesados. O mais incisivo foi mesmo António Costa, certo de que as "milhares" de famílias que perderam as poupanças com a falência do BES estão a ser injustiçadas, dando a entender que discordará da proposta de solução delineada no ano passado. Embora ressalve que "não compete ao Governo nem ao Presidente da República substituírem-se à Justiça", o socialista comprometeu-se a velar pela criação de mecanismos que possam responder, de forma satisfatória, às exigências dos emigrantes.
"Sei que o presidente da República acompanha o Governo na preocupação de criar os mecanismos de diálogo, de negociação e de arbitragem que permitam a todos aqueles que foram lesados verem os seus direitos tão satisfeitos quanto possível. Não podemos virar a cara e tem que se fazer justiça", rematou o governante, no final do discurso em Champigny. Marcelo Rebelo de Sousa seguiu-lhe as pisadas e garantiu estar atento "aos problemas financeiros e económicos daqueles que apostaram em instituições financeiras portuguesas e que vivem hoje problemas graves de economias perdidas, de poupanças que, de repente, desapareceram e de angústia relativamente ao futuro."
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Feitas as condecorações e inaugurado o monumento em honra do Mairie de Champigny, já falecido, que ajudou os emigrantes portugueses e acabou com o bairro de lata naquela vila nos anos 70, o presidente da República foi ao encontro dos emigrantes em protesto e embrenhou-se pela multidão, acompanhado por António Costa que pugnava por chegar à fala com os governantes. "Pedimos ajuda, por favor", suplicou um dos emigrantes, frente a frente com o primeiro-ministro, enquanto os restantes lesados gritavam ora pelo nome de Marcelo, ora por justiça. "Vamos fazer, estamos a fazer", afiançou António Costa.
As palavras de António Costa e de Marcelo Rebelo de Sousa não tranquilizaram José Ferreira, natural da Apúlia, que, após dois anos sem "ver um tostão" dos mais de 100 mil euros perdidos, dá voz ao desespero. "Perdi muito dinheiro que representava muitos anos de trabalho. A proposta que nos deram [Novo Banco] não é favorável, é indecente. Só espero que nos ajudem".