Entre o medo de morrer soterrado e o medo de acabar em território inimigo
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De um lado, a vida cingida à negritude dos túneis e abrigos subterrâneos de um complexo industrial da era soviética, dois infinitos meses sem réstia de luz solar, o oxigénio a querer escassear, a sensação de um desabar iminente a cada bombardeamento (como aqui se conta). Do outro, o medo de ser desviado na fuga, o pavor de não chegar nunca ao porto seguro, de acabar antes condenado a sobreviver em território inimigo. Será este o dilema que, por estes dias, aflige uma boa parte dos civis que continuam a resistir nas entranhas da fábrica da Azvostal, em Mariupol (Ucrânia)
Isso mesmo garante Volodymyr Zelensky, o omnipresente presidente ucraniano que já esta segunda-feira veio garantir que meio milhão (leu bem, meio milhão) de compatriotas já terão sido levados à força para a Rússia. Zelensky disse mesmo que, por causa disso, há civis com medo de entrar nos autocarros que a ONU e a Cruz Vermelha estão a disponibilizar para retirar as pessoas ainda "presas" na cidade.
Pode continuar a acompanhar a par e passo todos os desenvolvimentos desta sufocante guerra aqui. Como o facto de a Ucrânia ter identificado o primeiro suspeito do massacre em Bucha. E se ainda é dos otimistas que acredita que este conflito tem os dias contados, João Gomes Cravinho, ministro dos Negócios Estrangeiros português, não traz boas notícias. A previsão deste governante é que a crise política e militar pode levar dois ou três anos.
Por cá, a notícia do dia é a demissão da Secretária de Estado das Migrações, Sara Abrantes Guerreiro, dias depois de rebentar a polémica relacionada com o envolvimento de russos pro-Kremlin na receção aos refugiados ucranianos. O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já garantiu, no entanto, que as duas coisas não estão relacionadas, invocando "uma questão pessoal de força maior". Fonte do Executivo afiançou que a saída ocorreu "por motivos de doença". Sara Abrantes Guerreiro deixa assim o cargo que assumiu há apenas um mês, sendo rendida por Isabel Maria Almeida Rodrigues.
Nota ainda para este anúncio feito pela ministra da Saúde, Marta Temido, a propósito da vacinação contra a covid-19. E para esta rocambolesca história ocorrida na Póvoa de Lanhoso, na última madrugada. Sem esquecer os militares acusados pelo Ministério Público de praxe violenta na Polícia do Exército.
E se quiser desanuviar da dureza dos dias (dos medos também), permita-me mais uma sugestão de leitura: esta interessante entrevista feita ao ator Lourenço Ortigão pela jornalista Alexandra Tavares-Teles.
Tenha uma boa semana.