Talvez inspirado pela recente viagem ao Brasil, onde esteve para acompanhar o coração de D. Pedro IV, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, deu nesta quinta-feira uma espécie de grito do Ipiranga, não pela independência da Invicta, mas contra a falta de policiamento na cidade.
Corpo do artigo
Foi mais um "grito do Palácio" - a reunião do Conselho Municipal de Segurança decorreu na Biblioteca Almeida Garrett, nos Jardins do Palácio de Cristal -, que serviu para lembrar o sentimento de insegurança que atravessa a movida da cidade: sucedem-se os incidentes criminais, há venda de estupefacientes (e de droga falsa), mas faltam efetivos à PSP para garantir um policiamento eficaz.
A Câmara até está disponível para comparticipar um projeto de policiamento gratificado temporário, mas o pedido, diz Moreira, "foi desconsiderado" pela Direção Nacional da PSP.
E a situação é tal que até ao presidente da Câmara tentaram vender droga, junto à estação de S. Bento, contou o próprio Rui Moreira.
O autarca apontou ainda baterias ao consumo de droga na via pública que acontece em algumas zonas do Porto, considerando que são necessárias salas de consumo assistido nos concelhos vizinhos.
Motivos para gritar não faltarão aos portugueses, com a inflação de 7,8% prevista pelo Banco de Portugal. A "travagem da economia" anunciada para 2023 pela mesma instituição apenas significa que as finanças da maioria das famílias vão ter muitas derrapagens.
Num cenário de dificuldade generalizada, torna-se ainda mais incompreensível o que nos conta o Delfim Machado: a esmagadora maioria dos deficientes não tem acesso ao subsídio para a inclusão. Aquilo que deveria ser um direito para 1,7 milhões de portugueses com alguma incapacidade só chega a 127 mil pessoas. Para quem gosta de números: são apenas 7,5%.
Em hora de aperto, a TAP procurava cumprir a sua parte: preparava-se para renovar a frota de gestores e administradores encomendando cerca de 50 BMW para "poupar" 630 mil euros por ano, face ao atual contrato de renting. O coro de críticas que se gerou levou a transportadora aérea a recuar e a manter os atuais Peugeot por mais um ano.
Num país de matriz marcadamente católica, também não deixará de chocar o facto de todas as dioceses terem reportado casos de abusos sexuais de menores. Conforme refere o JN, "o anúncio de Francisco Azevedo Mendes confirma o cenário antes traçado pelo coordenador da comissão independente, Pedro Strecht, que deu conta de que os 400 testemunhos de abusos sexuais validados cobrem Portugal de Norte a Sul, envolvendo alguns acusados no ativo".
Por fim, uma nota literária. A "coragem" e a "acuidade clínica com que desvenda as raízes e os constrangimentos coletivos da memória pessoal" valeram à francesa Annie Ernaux o prémio Nobel da Literatura.