Inês CardosoRevoluções fofinhasNuma era de polarização e agressividade à solta nas redes sociais, tem vindo a crescer uma vaga que defende ser legítimo o uso da força e a infração de disposições legais quando estão em causa discriminações graves ou um alegado bem maior que justifica eventuais excessos de ação.
Inês CardosoDesconstruir padrõesO termo "jacindamania" não nasceu por acaso. A primeira-ministra neozelandesa tornou-se um ícone global ao ascender aos 37 anos à chefia de Governo, e manteve-se em alta fora de portas mesmo quando as sondagens internas a mostraram em queda ou quando medidas radicais como a proibição de venda de tabaco a todos os nascidos após 2009 causaram debate. O inesperado anúncio da sua renúncia não poderia deixar de ter cobertura em todo o Mundo.
Inês CardosoMáquina fiscal, uma trituradoraTodos concordaremos que é desproporcional um cidadão pagar uma multa de centenas de euros ou ver o seu salário penhorado por causa da falta de pagamento de uma portagem no valor de menos de um euro. No entanto, os tribunais estão cheios de processos desta natureza e não faltam relatos absurdos de advogados e juristas da Deco a quem têm chegado pedidos de ajuda. A aprovação, esta sexta-feira, no Parlamento, de uma proposta que visa reduzir as multas é o primeiro passo num longo caminho legislativo que deverá travar os excessos cometidos ao longo de anos.
Inês CardosoDemagogia? A culpa é toda vossaÉ demagógico considerar que os políticos são todos corruptos, tal como é absurdo criar uma barreira entre "nós" e "eles". Nós, os cidadãos tantas vezes pouco empenhados no bem comum e tolhidos pelo individualismo, apontamos-lhes o dedo como se não emanassem da sociedade e não fossem o resultado de um sistema em que todos temos uma palavra a dizer.
Inês CardosoAno novo, política novaNão será um arranque de ano fácil para António Costa. E o futuro do país dependerá muito da capacidade que o primeiro-ministro tenha de fazer escolhas definidoras e que corrijam o rumo errático que tem marcado o Executivo.
Inês CardosoResistir à desesperançaHá quem ache que já tudo foi escrito e que passamos a vida a repetir-nos e a citar-nos uns aos outros. É provável. Com tantos milhões de livros, poemas, discursos e desabafos, admira que as letras não estejam gastas. Por maioria de razão em épocas festivas, em que as mensagens se multiplicam, sempre iguais. E num contexto em que palavras como guerra, inflação, pobreza ou depressão tornam difícil abrir espaço ao estremecimento de alegria que nos assaltava, em miúdos, nas noites longas de Natal.
Inês CardosoUma revolução na saúde mentalOs adolescentes portugueses sentem-se mais infelizes, sinalizam sintomas físicos e psicológicos de ansiedade e mau humor, gostam menos da escola, têm mais dificuldades relacionais com os pais e os amigos, aumentaram comportamentos autolesivos. Os dados constam do estudo periódico "Health behaviour in school-aged children", feito por entidades de 51 países em colaboração com a Organização Mundial de Saúde, e agravaram-se em todos os parâmetros face aos números de 2018. Evidenciam algo que estudos parcelares anteriores foram expondo e que intuitivamente desconfiávamos que iria acontecer: a pandemia e os condicionamentos sociais tiveram efeitos pesados entre os mais jovens.
Inês CardosoA arte de existir em desaceleraçãoNo conto "Descida ao Maelström", Edgar Allan Pöe explora os diferentes estados emocionais de um pescador apanhado pelo aterrorizante redemoinho que ameaça engoli-lo. No início da descida, adormecido pela falta de esperança, o protagonista sente-se esmagado pela ação conjunta do vento e dos jatos de água e espuma. "Eles cegam, ensurdecem e asfixiam, e anulam toda a capacidade de ação e reflexão."
Inês CardosoMisoginia e idadismoJacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia desde 2017 e mãe durante o exercício do cargo, está habituada a responder a perguntas sexistas.
Inês CardosoQuando é que vamos inquietar-nos?Nas suas linhas gerais, o retrato não apresenta novidades. A inquietação está no detalhe, na malha fina dos números do Censos 2021 que agora o INE trouxe a público. Estamos mais velhos, somos cada vez menos (e a quebra só não é maior graças ao contributo positivo dos imigrantes), a distribuição pelo território é mais desequilibrada do que nunca. Um quinto da população concentra-se em apenas sete municípios e só um, Braga, não está nas duas áreas metropolitanas. É preciso somar os 208 concelhos menos povoados para atingir o mesmo número de pessoas.
Inês CardosoO ódio anda à soltaAo longo dos anos não faltam exemplos, alguns com consequências graves, de comportamentos discriminatórios e xenófobos por parte de elementos das forças de segurança. Nem é preciso recuarmos muito no tempo. No final do ano passado, um grupo de peritos da ONU mostrava-se surpreendido com relatos de "brutalidade" policial sobre pessoas africanas em Portugal. Em 2018, o relatório da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância sublinhava que as autoridades toleram a discriminação. Também em 2018, a então ministra da Justiça teve de justificar a "traição" de se referir ao tema e dizer que era necessário averiguar as "queixas recorrentes" de racismo nas forças de segurança.
Inês CardosoCatar. Informação e direito de escolha"Have you lost your freedom?" A pergunta de Adam é provocatória, no final da visita guiada à Mesquita Fanar, integrada no Centro Cultural Islâmico em Doha. Evito a pergunta e o peso do hijab que aceitei colocar, tendo em contrapartida acesso à área masculina enquanto os fiéis atrasados terminam a oração. Simbolicamente o momento sintetiza o esforço que o Catar está a fazer para se mostrar ao mundo, numa discussão em que religião, lei e direitos humanos se misturam numa teia cultural complexa.
Inês CardosoPura demagogiaA Associação Nacional de Municípios assumiu por estes dias uma insistência corajosa, de tal modo é impopular defender regalias para titulares de cargos públicos.
Inês CardosoEste país não é para deficientesMatilde Sampaio tem 11 anos, é invisual e frequenta uma escola, em Mirandela, incluída na rede de referência criada pelo Estado para a inclusão de alunos cegos e com baixa visão. Apesar disso, está desde o início do ano sem professor de braille. Razões processuais são a explicação avançada pelo secretário de Estado da Educação, que esta semana reconheceu, à margem de um evento precisamente em Mirandela, não ser aceitável a situação desta aluna de mérito.
Inês CardosoPortugal, um destino para trabalharPor estes dias, a ministra do Trabalho esteve em Cabo Verde, onde se dão os primeiros passos num acordo de mobilidade que visa recrutar e dar formação a trabalhadores interessados em vir para Portugal. É a primeira de várias missões previstas nos países da CPLP, numa altura em que se estimam em centenas de milhares as necessidades de trabalhadores em setores como a construção ou o turismo.
Inês CardosoO ativismo numa sociedade zangada"O que é que vale mais, a arte ou a vida?" A pergunta é de uma das ativistas do movimento "Just Stop Oil" que esta sexta-feira atiraram latas de sopa de tomate ao célebre quadro "Girassóis", de Van Gogh.
Inês CardosoIgreja: purificação ou morteNão haveria motivos para nos surpreendermos com a escalada de denúncias e casos de abusos sexuais na Igreja portuguesa. Não somos diferentes de outros países, exceto na demora em começarmos a mexer nas feridas. O que surpreende, depois de tantas mudanças introduzidas neste pontificado, depois de tantas histórias de horror e de tantos relatórios exaustivos, é ouvir as desculpas esfarrapadas com que alguns dos nossos bispos reagem às notícias de encobrimento.
Inês CardosoNo reino da arrogânciaUma demissão, meia dúzia de polémicas, desautorizações e desentendimentos na praça pública. Em traços largos, é a síntese possível de seis meses de um Governo sem estado de graça, já que recordar detalhadamente casos e problemas levaria meia crónica.
Inês CardosoO jornalismo e as pessoasCada linha de jornal é um espaço limitado, caro e que responsabiliza enormemente quem o utiliza. Por maioria de razão, escrever opinião chega a ser um exercício doloroso.
Inês CardosoA pobreza, aqui e agoraAs associações que andam no terreno já o notavam, as estatísticas vêm comprovar essa intuição. O número de portugueses em risco de pobreza cresceu e castigou particularmente a faixa acima dos 65 anos. O fenómeno continua a atingir com especial dureza idosos, crianças e mulheres, havendo um acréscimo de 256 mil pessoas em risco. Os números reportam-se a 2021 e não refletem ainda a crise causada pela subida galopante da inflação.
Inês CardosoObrigada, escola públicaTerminado o Ensino Secundário, o momento de acesso ao Superior é determinante para qualquer jovem e este fim de semana foi de ansiedade para milhares de famílias que aguardavam o desejado e-mail com a indicação de colocação. Senti na pele essa expectativa a crescer com o passar dos dias, as conversas sobre o que um estudante imagina e espera da universidade, o contentamento da minha filha com a confirmação de entrada num dos chamados cursos de topo, objetivo para o qual trabalhou com afinco e entusiasmo.
Inês CardosoO coração e os seus equívocosÉ fácil de perceber o entusiasmo e a curiosidade populares com o coração de D. Pedro IV. Como é fácil de entender a rapidez com que, em plena campanha eleitoral, Jair Bolsonaro se apropriou das comemorações do bicentenário da independência do Brasil e usou a trasladação ao serviço da sua própria retórica. Os erros históricos são o que são. A tentação de capitalizar politicamente todas as oportunidades, quando se avizinha uma eleição por agora dada como perdida, é humana e sem surpresas no atual chefe do Estado brasileiro.
Inês CardosoNa estrada, onde estão as notícias e as pessoasÉ normal que uma prova com três dezenas de edições tenha elementos de continuidade, territórios que percorremos sempre, uma ligação umbilical aos municípios para quem o Grande Prémio JN é já ponto assente no programa desportivo. Mas a esse sentido de continuidade junta-se, ano após ano, o elemento novidade. E nesta edição são várias as mudanças que prometem colocar esta prova âncora do calendário nacional no centro das atenções.
Inês CardosoUma primeira-ministra demasiado humanaSanna Marin tem 36 anos, facto que só por si a coloca numa posição rara. É uma primeira-ministra invulgarmente jovem, num país com uma cultura de exigência e forte escrutínio de titulares de cargos públicos. Se a isso se somar a atitude descontraída que tem adotado publicamente, fotografada em discotecas ou festivais de verão, percebe-se o alarido criado pela Oposição finlandesa em torno de vídeos em que a vemos a dançar e cantar numa festa privada.
Inês CardosoA eficácia do mata-borrãoDepois de vários dias de ausência, com o Governo a ser diariamente alvo de críticas devido ao caso Sérgio Figueiredo, à falta de medidas adicionais apesar da seca extrema ou à ineficácia do combate quando a área protegida da serra da Estrela ardia há quase uma semana, António Costa saiu do silêncio para vir comentar tudo e mais alguma coisa. Em meia dúzia de minutos, respondeu com ar bonacheirão a todas as perguntas dos jornalistas, fintou os temas mais incómodos com humor, comentou não comentando aquilo que o poderia comprometer.