O cemitério da freguesia do Monte, no Funchal, Madeira, já de si pequeno, foi demasiado estreito para acolher, ontem, terça-feira, o derradeiro adeus às vítimas da enxurrada.
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Foram cinco, sepultados do mesmo modo que morreram, no sábado, esmagados dentro da garagem onde se haviam refugiado por uma grua que não suportou a força das águas: juntos. Tal como haviam vivido, aliás, em estreita vizinhança, à Vereda do Poço do Morgado, na freguesia funchalense de Santo António, uma das mais batidas pela tragédia que já fez 42 mortos (na contabilidade oficial, embora continuem a ser encontrados cadáveres).
O bispo da capital madeirense, António Carrilho, presidiu às exéquias que congregaram centenas pessoas no recinto, invadindo o cemitério e calcando as lápides, e recordou-os a todos nessa homenagem colectiva: "Venho aqui porque são os primeiros funerais após a catástrofe que nos atingiu", assinalou o prelado, referindo-se a Benvinda de Faria Leitão e ao marido, Elias Fernandes Leitão, a Antão Mendes e a Gonçalo Fernandes, padrasto de Sara Beatriz Nóbrega, de cinco anos.
Um arrepio de comoção perpassou a assembleia reunida no cemitério quando a mãe da criança, Tânia, fugida à morte que lhe colheu a filha única por se encontrar de serviço na altura da tragédia, se despediu da menina num lamento impossível de olvidar.
Um a um, desceram à terra as cinco vítimas, tornadas excepcionais pelo funesto acaso dos desvarios da Natureza, numa longa cerimónia de quatro horas em que participou, também, o secretário regional do Ambiente e dos Recursos Naturais da Madeira, Manuel António Correia, em representação do Governo Regional.
E dali partiu, tal como o prelado funchalense, rumo à casa de Franscisco Fernandes Belo, o bombeiro voluntário falecido no sábado enquanto tentava salvar uma vizinha no sítio da Corujeira de Dentro, freguesia do Monte, e entretanto elevado à condição de símbolo da nobreza de carácter madeirense.