Bloco de Esquerda e PCP juntaram-se hoje, quarta-feira, nas críticas à intervenção da deputada e antiga líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, a quem o bloquista Luís Fazenda apelidou de "pitonisa do Bloco Central".
Corpo do artigo
"São circunstâncias da vida política, são as voltas que o Mundo dá", ironizou Luís Fazenda, no encerramento do debate sobre a proposta do Orçamento do Estado (OE) para 2011, comentando assim a intervenção de Ferreira Leite no debate parlamentar.
Numa alusão a declarações da antiga presidente social-democrata, o deputado do BE afirmou que, "provavelmente, para acalmar os mercados, é necessário que o ministro das Finanças não ameace reagir a crises políticas".
"É provavelmente com esse magnífico intuito de obstar aos nervos dos mercados que a senhora deputada até disse que quem fez este orçamento - julgo que o senhor ministro das Finanças - devia estar preso. Deve ser um calmante suplementar para os mercados financeiros", afirmou.
Luís Fazenda perguntou "quem é o soberano - o do sufrágio ou [as agências de rating] Moody's e Standard and Poor's", rejeitando a ideia do "quem paga, manda" - como referiu antes Manuela Ferreira Leite - e defendendo que "não há uma subordinação umbilical ao poder económico".
Para o Bloco, não faz sentido discutir agora "se o FMI aterra ou não" no aeroporto da Portela: "o Programa de Estabilidade e Crescimento [PEC] 4 já aí está, neste orçamento e o que vamos tendo é o FMI a prestações".
"A culpa não morre solteira"
O líder parlamentar comunista, Bernardino Soares, considerou que a deputada social-democrata "quer ajudar o PS a convencer os portugueses que têm de se resignar com esta política e este orçamento, usando até o truque habitual de comparar a economia do país com a economia de uma família".
Esta manhã, Manuela Ferreira Leite, dirigindo-se ao deputado comunista Honório Novo, defendeu que "se queremos ser economicamente independentes, então temos de nos conter dentro dos limites do que podemos pagar", acrescentando: "é aquilo que o senhor deputado faz lá em casa aos seus filhos".
Um argumento que o PCP agora devolveu, afirmando que a antiga líder do PSD apresentou "a lógica do porque-não: os Estados não podem pedir dinheiro ao BCE, porque não", disse Bernardino Soares, afirmando ainda: "Os filhos costumam retorquir: 'porque não, não é resposta'".
Sobre a proposta do OE, o deputado comunista salientou que "a culpa, tão falada neste debate, não morre de facto solteira, vive em bigamia com o PS e o PSD e também com o CDS".
"Diz o PSD que este orçamento tem de ser aprovado porque 'quem paga é quem manda'. Não, com esta política quem ganha é quem manda - os banqueiros, os especuladores, os grupos económicos - e quem paga é quem perde - os trabalhadores, os povo e o país", afirmou Bernardino Soares.
"Orçamento que esquece os portugueses"
Pelos Verdes, José Luís Ferreira acusou PS e PSD de "fazerem a vontade aos únicos que continuam a ganhar com esta crise".
"Este é o Orçamento que esquece os portugueses e que só tem a preocupação dos mercados", disse o deputado ecologista, referindo que apesar de o OE "impor novos e pesados sacrifícios" às famílias, "não vem dar resposta aos graves problemas do país".