<p>A greve geral começou ainda ontem. Alguns serviços começaram a parar à noite e os sindicalistas, que acompanharam, no terreno, os primeiros sinais da paralisação, lembram que os precários tão trabalhadores como os outros. Ou seja, também podem fazer greve.</p>
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O pré-aviso de greve geral de hoje subscrito pelas duas centrais sindicais protege todos os trabalhadores que pretendem aderir à paralisação, incluindo quem tem contrato de trabalho a termo ou que é obrigado a usar recebidos verdes.
A garantia é dada pelo dirigente e jurista da CGTP, Joaquim Dionísio, mas não é suficiente para contrariar o efeito das pressões de que são alvo esses trabalhadores.
Portugal é o país onde existe a terceira maior percentagem de precariedade laboral, a seguir à Polónia e a Espanha. Este dado, como já foi realçado por João Proença, líder da UGT, é um dos factores que mais distorce o mercado de trabalho e , consequentemente, limita a disponibilidade para a adesão a forma de luta.
São cerca de 30% (dois milhões) da globalidade dos trabalhadores, e estão mais vulneráveis a pressões. A frase é repetida e sublinhada por sindicalistas e pelas organizações de precários como a FERVE (Fartos/as d'Estes Recibos Verdes) e aplica-se a todos os sectores laborais, incluindo os organismos do Estado. É , no entanto, no comércio e serviços que o peso é mais significativo. Prevêem, por isso, os sindicalistas, que esses trabalhadores "sejam usados" para suprir a falta dos grevistas, particularmente nas grandes superfícies.
Um dos activistas do FERVE e do blogue do grupo "Precários Inflexíveis", Tiago Gillot, denunciou ao JN casos de "terrorismo psicológico", como na FNAC, onde "há desrespeito grosseiro da a lei da greve, com a reformulação dos mapas de folgas, além de estarem a ser organizados esquemas de transporte particular para os trabalhadores precários substituírem eventuais grevistas". Nos "call centres" a "pressão passa por ser anunciadas assinaturas de contratos para quinta-feira". Para o activista, "a intimidação é evidente", mas confia que a adesão à greve será "muito grande".
A divulgação dos números da adesão à greve está, aliás, a causar alguma preocupação no Governo.
Para garantir o que diz ser a transparência e maior fiabilidade dos dados sobre a adesão à greve, o Governo criou para a administração pública central, um sistema aberto de monotorização. Os sindicatos, chamados a participar, recusaram e garantem que têm os seus próprios meios para aferir da adesão à paralisação.
A novidade que o secretário de Estado da Administração Pública, Castilho dos Santos, quer aplicar hoje, possibilitará que os jornalistas acompanhem, presencialmente, no Ministério das Finanças, a evolução dos dados da adesão dos serviços e organismos da administração pública à greve.
Para Nobre dos Santos, da Frente dos Sindicatos da Administração Pública (FESAP), da UGT, a ideia "não tem sentido" até porque, argumentou, "os sindicatos não têm que dizer ao Governo quem são os seus associados, nem quem faz ou não greve".
Também para Ana Avoila, dirigente da Frente Comum, da CGTP é uma "forma de coacção aos trabalhadores".
Outra recusa foi expressa pelo Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE), independente, com o dirigente Bettencourt Picanço a manifestar desconfiança sobre a verdadeira razão que leva o Ministério a fazer esse convite. E foi peremptório: "Os sindicatos têm promovido sempre a monitorização das greves e nunca precisaram do apoio do Ministério".