O número de crianças e jovens infetados com covid-19 em Portugal tem vindo a aumentar desde o desconfinamento.
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O país já conta mais de 20 mil casos de infeção em pessoas abaixo dos 40 anos. Registou recentemente a quarta morte entre os 30 e os 39 anos e conta apenas duas mortes entre os 20 e os 29. Mas o novo coronavírus já atirou muitos jovens para as camas dos cuidados intensivos dos hospitais e há cada vez mais descrições de sequelas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou que os jovens poderão fazer aumentar os surtos da doença na Europa.
Vera Resende corria meias maratonas e praticava BTT quando o vírus a empurrou para os cuidados intensivos. Foi uma surpresa, tem 37 anos. E embora já tenha teste negativo da covid-19 desde final de maio, o pulmão ainda não sarou, ainda sente cansaço e falta de concentração. "Aquilo que sabemos é que as formas graves da doença podem atingir qualquer idade. Apesar de o desfecho ser mais fatal em indivíduos mais velhos, que têm patologias associadas", explica Raquel Duarte, pneumologista no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, que sublinha que "nos indivíduos mais jovens também ocorrem formas graves e sequelas, mesmo sem patologias associadas".
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Num dos maiores hospitais do país, o São João, no Porto, apesar de a média de idades de doentes covid-19 na Unidade de Cuidados Intensivos ser de 65,75, já lá passaram seis pessoas com 35 anos ou menos. E a ex-secretária de Estado da Saúde avisa: "Qualquer um de nós é potencialmente um infetante, em qualquer grupo etário. Mas há condições que fazem com que seja mais fácil a transmissão. São aquelas em que um indivíduo infetado está com muita gente, que depois vai estar com muita gente ao longo do tempo". Já há um movimento no Instagram que usa a hashtag #covidnaodorme para sensibilizar os mais jovens a evitarem ajuntamentos. "Podemos ter uma vida pseudonormal. Podemos ir à praia, almoçar fora, fazer um piquenique. Mas devemos evitar as grandes concentrações, as grandes festas", diz a pneumologista.
Quadros de fadiga
Cinco meses depois de a OMS ter declarado a pandemia, as sequelas são o maior receio de quem esteve doente. Segundo Cláudia Carvalho, médica infeciologista no Hospital São João, "tem-se vindo a perceber que há complicações a longo prazo". "Aí temos dois grandes grupos. As pessoas que tiveram doença muito grave e que precisaram de muito suporte podem ter fibrose pulmonar que fica da pneumonia. Ou sequelas a nível cerebral. Mas há cada vez mais relatos de sequelas em pessoas com doença ligeira. E claramente são jovens".
Cláudia tem assistido à descrição de quadros de fadiga. "Há pessoas novas, muito ativas, que tiveram doença ligeira e que relatam um cansaço inexplicável. Pessoas que antes corriam quilómetros e que agora sobem umas escadas e ficam cansadas. Ficam mesmo com incapacidade para trabalhar". Ainda não se sabe se estes sintomas serão a longo prazo. "Nos EUA, há milhares de casos já recuperados de indivíduos jovens com estes sintomas. São pós-infeção. No fundo, é uma recuperação lenta".