A narrativa remete para episódios que se afiguram como realidade distante, quase sempre fabricada do outro lado do Atlântico, no contexto de escolas resguardadas no interior americano. A 20 de Abril de 1999, o Mundo despertava para o massacre de Columbine, perpetrado por Dylan Klebold e Eric Harris, na secundária de uma tolhida cidade do Colorado. Da jornada sombria sobraram 15 mortos, duas dezenas de feridos e um trauma profundo numa América até então pouco preparada para encarar a violência desferida por dentro. Não foi o primeiro ataque e as réplicas sucederam-se nos últimos anos, tantas vezes ungidas de raiva e revolta juvenis.
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Nesta quinta-feira, ressoaram as sirenes quando a Polícia Judiciária deu conta da detenção de um jovem de 18 anos que, alegadamente, se preparava para matar indiscriminadamente na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. O alerta fora dado dias antes pela polícia federal americana - e o massacre em Columbine ou no Virginia Tech chegam-se à memória como coisa que não se imagina possível na Cidade Universitária da capital portuguesa. Num apartamento do bairro dos Olivais, em Lisboa, onde decorreu a detenção, foi encontrado, além de um arsenal próprio da ficção, o plano detalhado do ataque, preparado num caldo de motivações ainda desconhecidas, cujos contornos se começam a desvendar na edição deste sábado do JN.
Ao arguido, presente esta sexta-feira a uma juíza de instrução, indiciado pelos crimes de terrorismo e posse de arma proibida, foi aplicada, sem surpresa, a medida de coação mais gravosa, a prisão preventiva. João, o nome que todos repetem e todos desconhecem, permaneceu em silêncio nas duas horas de inquirição. Jorge Pracana, o causídico que o defende, vai recorrer da preventiva.
Os sucessivos ciberataques que, nas últimas semanas, atravessaram a atualidade nacional, com um mesmo padrão de eliminação sistemática de informação e paralisação de serviços - e que têm visado, sobretudo, grupos de comunicação social, mas também os laboratórios Germano de Sousa -, atingiram o zénite com o ataque sem precedentes, na noite de segunda-feira, à operadora de telecomunicações Vodafone, que alienou quatro milhões de portugueses de comunicações móveis e Internet. O apagão estendeu-se ao longo da semana e, sabe-se agora, a porta de entrada para os piratas informáticos terá sido o login e palavra-passe de um funcionário da empresa. Já a avaria que deixou, na manhã desta sexta-feira, grande parte das farmácias com os sistemas informáticos em baixo não deverá ser imputada aos piratas que direcionaram atenções para o extremo ocidental da Europa. O rumor foi descartado pela Associação Nacional de Farmácias, que garantiu estar o problema sanado.
Ainda o país político digeria a nova configuração da Assembleia da República, saída das legislativas de 30 de janeiro, e a contagem de votos dos círculos eleitorais da emigração impôs-se com estrondo, com mais de 80% dos votos do círculo da Europa considerados nulos. Mais de 100 mil votos ignorados de uma diáspora quase sempre arredada da vida política nacional. Livre, Volt e PAN recorreram esta sexta-feira junto do Constitucional da decisão de invalidar os 157 mil votos, na sequência dos protestos apresentados pelo PSD. Marcelo já garantiu que o recurso não vai atrasar a posse do novo Governo de Costa, agendada para o dia 23. Rui Rio fala em "crime eleitoral" e anunciou que vai apresentar queixa no MP.
Numa nota menos grave, a desanuviar os dias carregados de incerteza, o diretor da Organização Mundial da Saúde disse, esta sexta-feira, que a fase aguda da pandemia pode terminar este ano. Para tal, basta que se diluam as assimetrias que o vírus do século veio evidenciar e que a vacinação esteja assegurada em cerca de 70% do planeta. Meta que implica aumentar em seis vezes a taxa de vacinação do continente africano. "Está nas nossas mãos, não é uma questão de sorte, é uma questão de escolha", atirou Tedros Ghebreyesus. Matéria para reverter a distopia.