Inspirados pelos valores centenários da República, Cavaco e Sócrates aproximaram-se nas palavras. No palco da Praça do Município, em Lisboa, ambos assinalaram o 5 de Outubro com apelos à "coesão nacional" como resposta à emergência dos dias que correm.
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Cem anos depois da proclamação do novo regime, os protagonistas da política de hoje sabem da "gravidade do tempo presente". Por isso, pediram "coesão" e "responsabilidade" perante uma praça com muitas individualidades convidadas, algum povo e dezenas de "bigodes da res publica", que o grupo de teatro "O Bando" espalhou pela Praça do Município. Ausência notada foi a do líder do maior partido da Oposição.
"Da República centenária poderemos extrair vários ensinamentos. Entre eles, destaca-se um: não é da crispação que nascem as soluções para os problemas. Impõe-se que exista um compromisso político de coesão nacional". O chefe de Estado não falou de compromisso para o "Orçamento de Estado", mas o enquadramento deste apelo não pode ser outro, nos tempos de correm, até porque reafirmou que tudo fará "para que prevaleça uma cultura de diálogo e de responsabilidade que permita alcançar os entendimentos necessários à resolução dos problemas do país".
Talvez por cautela, a seguir, na escola que inaugurou, Cavaco teve necessidade de chamara a atenção dos jornalistas para não fazerem "interpretações erradas" das suas palavras. Antes, no discurso, pedira "isenção, objectividade e rigor" aos jornalistas e "contenção verbal" aos titulares de cargos públicos.
Na opinião do presidente, "a cultura republicana de responsabilidade exige rigor, bom senso, ponderação e contenção verbal, não se compadecendo com intervenções arrebatadas na praça pública". Mais uma interpelação directa aos líderes partidários.
Na linha do apelo do chefe de Estado, o primeiro-ministro, que falou momentos antes, situou o seu discurso bem no presente, "no tempo duro e exigente que o país atravessa e que exige dos políticos responsabilidade, determinação e lucidez".
"É nestes momentos cruciais que os povos afirmam as suas qualidades de trabalho, de resistência, de vontade e de coragem.
É nestas horas que os políticos provam o seu sentido de responsabilidade e as suas convicções, a sua determinação e a sua lucidez, que os deve levar a compreender o que está em causa". Sócrates desenvolvia o mote que tem usado desde que apresentou as últimas medidas de austeridade, o da "coragem e determinação do Governo".
Outra das convergências de conceito e de palavras entre Sócrates e Cavaco foi o aviso para as ruas, quando é previsível uma greve geral apoiada pelas duas centrais sindicais. Ao apelo presidencial à "concertação entre trabalhadores e empregadores", correspondeu a crítica do governante "às reivindicações irrealistas".
No final, a circunstância exigiu aplausos para todos e de todos, com a bandeira hasteada pelo presidente, ao som da "Portuguesa" cantada pela soprano Elizabete Matos e pelas Jovens Vozes de Lisboa.