No espaço de cerca de um mês, Inês Sanches, mãe de Jéssica, a menina de três anos de Setúbal espancada e torturada até à morte, entregou a menina por três vezes à família dos alegados agressores, como garantia do pagamento de uma dívida por atos de bruxaria. A última foi fatal.
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De acordo com a acusação do Ministério Público (MP) de Setúbal, a primeira vez que Inês recorreu aos serviços de bruxaria de Cristina ("Tita"), foi em maio deste ano. A sua relação com o pai da menina estava tremida e ela andava desesperada. "Tita" deu-lhe umas ervas para ela colocar debaixo da cama. Fez isso duas vezes e cobrou-lhe 200 euros, que Inês não pagou.
Para a obrigar a pagar, Cristina, Esmeralda e Justo "engendraram um plano com vista a exigirem à arguida Inês Sanches o pagamento, exigindo-lhe, então, a entrega da filha como garantia desse pagamento", refere o MP. Inês conseguiu arranjar 100 euros e saldar metade da dívida. Recebendo a filha de volta incólume.
Mas como ela tardou em pagar o resto exigiram de novo a entrega da menina. Ficaram com ela uma semana durante a qual a espancaram violentamente, com pancadas por todo o corpo. Entregaram-na à mãe em tal estado que a menina, durante a semana seguinte, apenas conseguiu ingerir líquidos.
"Apesar do estado em que se encontrava Jéssica Biscaia e de ter recebido aconselhamento de outras pessoas com as quais convivia nesse sentido, a arguida Inês Sanches não a levou a qualquer unidade hospitalar ou centro de saúde", refere o Ministério Público.
Apesar deste antecedente e após mais um serviço de bruxaria, por iniciativa de "Tita", no valor de 250 euros e que Inês não pagou, a menina foi de novo entregue à família como garantia. Inês preparou-lhe até uma mochila com roupas, fraldas e uma embalagem de comprimidos ben-u-ron.
A semana que se seguiu foi de terror e sofrimento para Jéssica, agredida e torturada de várias formas até ficar às portas da morte usada para transportar droga, dentro e fora do corpo. Quando foi entregue à mãe estava praticamente inconsciente e em agonia.
Inês recebeu-a da família perto da Polícia Judiciária, com óculos escuros para esconder as lesões, levou-a para casa e só muitas horas depois contou ao companheiro que avisou as autoridades. Demasiado tarde.